O Modelo Magnet: o futuro dos cuidados de saúde

A escassez de profissionais de enfermagem é uma realidade crescente e preocupante, com impacto direto na sustentabilidade dos sistemas de saúde. Face a esta evidência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado para a necessidade de uma mudança estratégica: menos foco na contratação e maior investimento na retenção dos enfermeiros já integrados no sistema de saúde.

Este é o novo paradigma! Para além das estatísticas, há realidades preocupantes, como os elevados níveis de burnout, a rotatividade acentuada e a perda de talento e de proficiência – fatores com impacto direto na segurança e qualidade dos cuidados. Apesar da perceção de que a solução é financeira, a evidência aponta para a necessidade de uma resposta estrutural centrada na valorização do ambiente de trabalho.

A criação ou adaptação de um modelo com mais de cinco décadas de aplicação comprovada nos Estados Unidos da América — e cuja implementação tem vindo a expandir-se progressivamente por diversos países europeus através do Projeto Magnet4Europe — parece configurar uma via promissora para colmatar a escassez de profissionais de saúde.

Este modelo [Magnet], desenvolvido pelo American Nurses Credentialing Center, identifica e reconhece instituições com capacidade para atrair, reter e motivar profissionais de enfermagem, mesmo em contextos adversos.

Inspirado neste modelo de excelência, emergiu o projeto Magnet4Europe — uma iniciativa transnacional que integra mais de 60 hospitais distribuídos por seis países europeus, incluindo a Bélgica, Alemanha, Irlanda e Suécia. Esta iniciativa tem como objetivo central a adaptação dos princípios do modelo Magnet ao contexto europeu, promovendo ambientes de prática profissional mais saudáveis e sustentáveis, com impacto direto na qualidade dos cuidados prestados.

A evidência é robusta. Os estudos já realizados demonstram que os hospitais com características do modelo Magnet apresentam melhores ambientes de trabalho, menores níveis de burnout, maior satisfação profissional e melhores resultados clínicos. A dimensão económica também é relevante: segundo Aiken, a análise de custo-benefício do Magnet4Europe estima que cada enfermeiro que abandona o sistema representa um custo médio de 40.000 euros, considerando recrutamento, formação, perda de produtividade e impactos na qualidade e segurança dos cuidados.

Em Portugal, onde a dificuldade de retenção é particularmente sentida em regiões periféricas e em unidades de elevada exigência, como as Unidades de Cuidados Intensivos, estes dados assumem especial relevância. Investir em condições de trabalho dignas, autonomia profissional, liderança próxima e envolvimento dos enfermeiros nas decisões clínicas e organizacionais deve ser entendido como uma estratégia de sustentabilidade, e não como um encargo adicional.

A experiência dos países aderentes ao Magnet4Europe mostra que é possível transformar organizações de saúde em ambientes mais atrativos, seguros e estáveis, através de mudanças na cultura organizacional. O retorno é claro: menor turnover, melhores indicadores de cuidados, e maior satisfação de profissionais e utentes.

Num tempo em que se exige simultaneamente eficiência e humanização nos cuidados, valorizar os profissionais de saúde representa um investimento de elevado retorno. A excelência não acontece por acaso: resulta de uma cultura que reconhece e potencia o contributo dos profissionais como eixo estruturante da resposta aos desafios contemporâneos em saúde. O modelo Magnet demonstra que reter talento é não só possível, mas imprescindível.

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