Quem é que nunca errou? Nos tempos do algoritmo e da Inteligência Artificial só erra quem quer?
Julgo que a natureza imperfeita do ser humano, torna o erro uma inevitabilidade das nossas vidas.
Mesmo numa era, em que temos todos de ser perfeitos, bonitos, simétricos, inteligentes e aceites.
O ser humano sempre ambicionou algo para além da sua semelhança, um ser idílico, que não erra, assertivo, simplesmente perfeito.
No entanto, a história está repleta de erros ou equívocos humanos que influenciaram o seu curso, para pior, mas também para melhor.
Como foi o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand da Áustria em Sarajevo, em 28 de junho de 1914, que deu origem à Primeira Guerra Mundial, só aconteceu porque o motorista do arquiduque enganou-se no caminho.
Também a descoberta do Viagra, em que a criação de um medicamento para tratar problemas cardíacos, ocasionalmente revelou um efeito secundário essencial para tratar a disfunção erétil.
E a torre de Pisa, que após 10 anos da sua construção começou a se inclinar pelo afundamento do solo, revelando um erro grave de conceção, foi proposta para ser uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno.
Todos estes erros tiveram efeitos para além da base do próprio erro – Existe sempre uma dinâmica no erro – por isso, não devemos ter tanto receio de errar.
O medo de errar surge pelo medo que temos de falhar, não estar à altura, sermos julgados e o medo do desconhecido que o erro proporciona.
O medo do erro desconcentra, quanto mais aceitarmos a sua possibilidade, menos vamos errar.
Existem também erros que são recorrentes.
Todos já assistimos a partidos ou movimentos políticos que não são poder, quando o são, cometem os mesmos erros que criticavam.
E o mais simpático e humilde governante, com o exercício do cargo, que se transforma num arrogante errático.
Contudo, já ouve quem dissesse e concordo que “o erro repetido em política é um escândalo em gestação”.
Por isso os erros na política, por ter grandes efeitos na sociedade, deviam ser mais escrutinados pelos cidadãos.
Mesmo por aqueles, que dizem que não ligam nada à política.
Também no desporto, os erros muitas das vezes decidem finais e carreiras.
Se não fosse um erro do árbitro, não se eternizava a “mão de Deus” de Maradona.
O mais recente erro que assisti, foi ver alguém com um salário anual de 4 milhões de euros, a deixar o “Vitinha” no banco.
Há quem diga também, por vezes com alguma soberba que “Quem nunca errou, nada fez”.
Contudo, se for para insistir num erro, intencionalmente ou não, é mesmo melhor estar quieto e nada fazer.
Ainda a propósito de errar, no início da minha carreira, entraram de repente dois indivíduos no meu escritório, e após uma conversa de café na Rua Fernão de Ornelas, um queria emprestar ao outro 15.000,00€.
Lá fiz o contrato, o que emprestou o dinheiro passou o cheque e ficaram todos felizes e contentes.
No dia seguinte, quando fui arquivar a cópia do contrato, vi que tinha cometido um grande erro.
Por lapso, tinha trocado as posições contratuais dos sujeitos, e o que emprestou o dinheiro, afinal estava a dever 15.000,00€ ao outro.
Obviamente, liguei de imediato aos visados e disse que teriam de vir assinar de novo o contrato.
Aqui deixaria de ser advogado das partes, e seria advogado do meu próprio erro.
Correu tudo bem, mas aprendi desde então, a confirmar e a reconfirmar, a qualidade de quem assina os contratos.
Vivendo e aprendendo.
Herrar é Umano, mas se conseguirmos aprender com os nossos erros, e não permanecermos no mesmo erro, mesmo que no decurso do processo surja algum erro ou falha, também não atrapalha, pois… “Errar é Humano”.