As eleições legislativas nacionais de 2025 foram marcadas por um claro vencedor — a Aliança Democrática (AD), coligação que junta o PPD/PSD e o CDS-PP — e por um derrotado retumbante — o Partido Socialista (PS). Mas se olharmos para os resultados da Madeira e os compararmos com os do país, percebemos que, apesar de fazerem parte do mesmo mapa eleitoral, as leituras e as dinâmicas políticas são, em muitos aspetos, bem distintas.
A nível nacional, a AD triunfa com 32,72% dos votos e conquista 89 mandatos, insuficientes para uma maioria absoluta, mas suficientes para afirmar uma liderança clara. O PS afunda-se para 23,38%, perdendo 20 mandatos e ficando praticamente empatado com o Chega, que dispara para 22,56%, confirmando a emergência da direita populista como terceira força nacional (ou segunda após o apuramento do voto da emigração). O restante espectro partidário mostra sinais mistos: a Iniciativa Liberal mantém-se estável; o Livre cresce moderadamente; já o BE e a CDU registam perdas acentuadas, que os atiram para a irrelevância parlamentar.
Na Madeira, porém, as linhas de leitura são outras. A Coligação não só vence — arrasa. Com 41,35% dos votos, reforça a sua posição de liderança regional, mantendo os 3 mandatos e deixando para trás a instabilidade que marca o quadro nacional. Aqui, a coligação não sofre os efeitos corrosivos que muitas vezes atingem o centro-direita no continente; pelo contrário, é vista como força de estabilidade e competência.
O PS, que no país ainda mantém um núcleo duro relevante, na Madeira desmorona-se. Com apenas 13,46%, perde um mandato e fica muito abaixo da média nacional. Este resultado não pode ser lido apenas como reflexo da crise socialista nacional, mas também como um sinal de desconexão local, falta de estrutura e incapacidade de se afirmar como alternativa regional.
O Chega cresce também na Madeira, atingindo 20,90%, mas este número deve ser interpretado com cautela. Não reflete um enraizamento sólido na realidade insular — é, acima de tudo, um eco das tendências nacionais, um voto de protesto galvanizado pelo discurso nacional do partido. Nas eleições regionais o Chega nunca conseguiu replicar este fôlego. No entanto, ignorar este crescimento seria um erro estratégico.
Já o JPP é um caso único no contexto regional. Com 12,32% e um mandato, confirma o seu crescimento sustentado e consolida-se como terceira força madeirense, algo sem paralelo a nível nacional. O JPP é a prova de que há espaço na Madeira para projetos locais, com identidade própria, que sobrevivem para lá das dinâmicas nacionais.
Nos pequenos partidos, a Madeira segue a mesma tendência nacional: IL, BE, PCP-PEV e Livre apresentam resultados marginais, incapazes de alterar o equilíbrio político. A esquerda, em particular, sai fragilizada tanto no continente como na Região, castigada pela fragmentação e pela ausência de soluções mobilizadoras.
Olhando para o conjunto, percebemos que, enquanto o país vive uma disputa intensa entre três blocos (AD, PS e Chega), na Madeira há uma clara bipolarização entre a Coligação e o resto — com o Chega a surgir como força secundária e o JPP a marcar posição como alternativa regional. A Madeira mantém-se fiel à tradição de privilegiar a estabilidade e o trabalho feito, enquanto o continente enfrenta um cenário de fragmentação e reconfiguração profunda.
O desafio agora, tanto no país como na Região, é honrar a confiança dos eleitores. A AD tem uma responsabilidade histórica: manter a estabilidade, evitar os extremismos e apresentar soluções sérias. Na Madeira, essa responsabilidade é ainda maior, porque os madeirenses não votaram apenas por rotina — votaram por confiança. E confiança, uma vez perdida, não se recupera facilmente.
Assim, e pela primeira vez em décadas, há um cenário político teoricamente mais favorável para reforçar a posição da Madeira no quadro nacional. Este alinhamento entre Lisboa e Funchal poderá traduzir-se numa articulação mais eficaz na execução de projetos estratégicos, na captação de investimentos e na aplicação de fundos nacionais e europeus, acelerando dossiers relevantes como a revisão da Lei das Finanças Regionais, permitindo à Madeira assegurar maior capacidade fiscal e financeira e uma gestão autónoma reforçada. E num horizonte mais ambicioso, e com a discussão da revisão constitucional em cima da mesa — tema que a maioria de direita pode finalmente desbloquear —, surge também a possibilidade de fortalecer os poderes autonómicos da Região, consagrando constitucionalmente direitos e competências mais claros, robustos e protegidos face a eventuais derivações centralistas.
Este é, portanto, um momento político de alinhamento e oportunidade, que exige da Madeira não apenas ambição, mas também estratégia, inteligência negocial e capacidade de construir pontes com Lisboa para garantir que este ciclo histórico se traduz em ganhos reais e duradouros para os madeirenses.