Escrevi há cerca de dois meses que as eleições de 18 de mais eram evitáveis, face aos desafios que o mundo enfrenta – e que se têm acentuado –, e ao cansaço generalizado das pessoas com os sucessivos atos eleitorais.
Embora o resultado das eleições deixe antever um cenário de estabilidade para os próximos quatro anos e meio, a verdade é que essa estabilidade poderia ter sido alcançada no quadro legislativo anterior, se tivesse havido um entendimento entre os principais partidos do arco da governação.
A ironia é que o principal argumento contra esses acordos é que tal levaria a um aumento da votação na extrema-direita, exatamente o que aconteceu nestas eleições, mas com a agravante de que a inexistência desses entendimentos adiou reformas urgentes que o país precisa para avançar.
Mas nem tudo foi mau. Assim, para além da perspetiva de um quadro governativo de estabilidade, a extrema-esquerda eurocética e cúmplice de regimes ditatoriais – como a Venezuela – encolheu, quase desaparecendo – embora os seus líderes, a avaliar pelas reações, ainda não se tenham apercebido disso…
Quem também encolheu – e muito – foi o PS, que terá como consequência – positiva, digo eu –, a viragem do partido ao centro, aumentando a probabilidade dos necessários entendimentos com o PSD nos aspetos cruciais para o futuro do país.
O próximo Governo da República tem grandes desafios pela frente, desde logo lidar com uma conjuntura externa extremamente perigosa, que exige uma aposta na defesa, mas sem colocar em risco as funções sociais do Estado, nomeadamente ao nível da Saúde e da Habitação, setores que enfrentam problemas que se não forem resolvidos – mais o segundo do que o primeiro – levará ao aumento do populismo e, consequentemente, da extrema-direita. É, pois, essencial que nestes dois setores, mas também ao nível da Justiça, da Segurança Social, da Fiscalidade e da Educação sejam formalizados acordos duradouros entre o PSD e o PS, a bem do futuro do país. Este será, quiçá, o cordão sanitário mais eficaz para travar a extrema-direita.
Quanto à Madeira, o PS continua descontraidamente a esfumar-se, com o seu líder a se arrastar penosamente na liderança, tendo desta vez contribuído para a eleição de um deputado do JPP, por sinal um ex-deputado do PS na Assembleia Legislativa da Madeira. Um apagão quase total.
Dos nossos deputados eleitos espera-se que façam a defesa intransigente dos interesses da Região na Assembleia da República, retribuindo deste modo a confiança que os eleitores neles depositaram, na certeza de que todos ainda serão poucos para combater o centralismo de Lisboa.
O Desejado
Aproveitando uma campanha de vacinação muito bem-sucedida, assente na organização e na disciplina, Gouveia e Melo cavalgou a “onda mediática” e tornou-se “presidenciável”. Portugal, eternamente à espera de um D. Sebastião, viu no Almirante essa figura, que será, com grande probabilidade, o próximo Presidente da República.
Qual submarino, andou acima e abaixo no seu caminho rumo a Belém. E depois de ter tido inúmeras oportunidades para, de uma vez por todas, confirmar aquilo que toda a gente já sabia, resolveu fazê-lo em plena campanha eleitoral. O “timing” não poderia ser pior, transmitindo um sinal negativo de desrespeito pela nossa ordem democrática.
Somando a isto um “raspanete” público aos militares do Mondego e a convicção da necessidade de uma defesa nacional robusta – sabe-se lá a custo de quê –, não me parece que possamos estar totalmente sossegados. Mas oxalá esteja enganado.