Uma semana antes das eleições escrevi que: “o PS continua a atacar a AD, não percebendo que isso favorece o CHEGA”. Tal como Costa, Santos Silva e Ferro Rodrigues alimentaram o Ch para fragilizar o PSD, também Pedro Nuno sucumbe à tentação de jogar o jogo de Ventura, parecendo ignorar que não tem os mesmos trunfos. Agudiza-se com um spinning em profunda crise, cujo maior sinal é LPM no canal NOW a chamar corrupto a Montenegro ou a sugerir que a divulgação dos clientes da Spinumviva teria sido do PSD (quando já se sabe que foi obra da coligação PS-BE Delgado Alves-Fabian Figueiredo) para “mitigar os efeitos nocivos do apagão”. Que só na sua cabeça penalizou o Governo. Não sou vidente, mas os resultados deram-me razão.
É seguro afirmar que a maior vítima eleitoral do caso que levou o PS a derrubar o governo e a pedir uma Comissão Parlamentar de Inquérito, foi o próprio partido de Pedro Nuno Santos.
E Cafôfo, na Madeira, não deixa de ter razão ao dizer que não foi só nas legislativas nacionais que o populismo medrou. Também nas regionais houve um partido a capitalizar a demagogia dos “casos e casinhos”, sendo o PS a suprema vítima. O problema é que tanto cá como lá, foram os socialistas que se colocaram nessa posição ao alinharem com os populistas. E se no país foi o Chega a capitalizar, em março na Madeira foi o JPP, que Cafôfo jurava ser seu parceiro num governo imaginário que só na sua cabeça, e de Élvio Sousa, existiria, o tal partido “populista” a capitalizar. Então, caro Paulo: era com populistas, segundo as tuas palavras, que ias mudar a Madeira?
De resto, é preciso ter coragem para sinalizar parte significativa dos votantes do CHEGA. Dando o exemplo da Madeira e dos Açores, o partido de Ventura ganhou em mesas como da Nazaré e Santo Amaro, no Funchal, ou na freguesia de Rabo de Peixe, nos Açores. Como sempre me disse o meu pai “o Voto do Mário Soares é igual ao voto do Manuel “Fona”, da Lombada, portanto todos os votos são iguais. E se nos Estados Unidos foram precisamente os (ex)-imigrantes (aqueles que já estavam dentro dos EUA) a votar Trump e a pugnar pela não entrada dos seus irmãos latino-americanos, naquele sentimento egoísta de que “sou favorável às migrações até eu entrar… Mas depois passo para a barricada do ‘nem mais um’, também aqueles que mais beneficiam de apoios sociais… CHEGAram-se à frente (inevitável fazer o trocadilho) para votar na direita radical que pugna por ‘nem mais um subsídio’.
Comentadores de ocasião
Divertido é também observar as sinuosidades dos comentadores, que nos entretantos em que omitem as suas agendas pessoais, vão metendo água na orientação da opinião pública. Para que ninguém se lembre dos falhanços das suas previsões, juntam-se agora aos vencedores, alimentando desde onday after a ideia de que é inevitável o CHEGA… chegar ao governo. Como se os portugueses fossem cordeiros que, sabendo que estão a seguir para a matança, não conseguem sair da fila do açougue. Não entenderam os comentadeiros que, alinhando na retórica das “Spinum” da vida, ajudaram a promover Ventura, como não entendem no presente que o voto não é igual ao de há 30 anos. Cada vez menos os cidadãos são deste ou daquele partido. Cada vez menos o partido é como um segundo clube de futebol, em que está subjacente uma fidelidade sabuja. Se há décadas, 15 ou 20 % de eleitorado flutuante era suficiente para decidir vencedores, vencidos e maiorias absolutas, neste momento 30 ou 40% simplesmente não têm o voto consolidado até à última semana. Não tenhamos dúvidas que, se as legislativas nacionais fossem em março, como as regionais, o Chega, em vez de aumentar em 2% os votos, e em uma dezena o número de deputados, provavelmente perderia até um terço do seu grupo parlamentar. Como aconteceu na Madeira. Ou pior. Imerso nessa altura em casos graves nos seus quadros, que apesar de eternamente ofuscados pela face única, Ventura, existem e têm de ser coerentes na práxis com a retórica do “querido líder”, e com o ónus da crise política, não poderiam os “cheganos” constituir-se como válvula de escape dos eternos revoltados.
Mas, como o PS se prestou a lhes fazer o favor de se assumir como ignição da queda do Governo, e dois meses em política é cada vez mais uma eternidade para a memória do eleitor, Ventura descolou e Pedro Nuno caiu, com estrondo.
Rodapé: se há 5 anos, quando o BE teve mais de meio milhão de votos e quase uma vintena de deputados, me dissessem que a eleição singular de um deputado do Bloco seria recebida com a euforia que testemunhamos em directo na TV, dificilmente acreditaria. Mas, perdoem-me a frontalidade, foi muito saboroso!