Pois é… o apagão chegou inesperadamente numa segunda-feira, no dia 28 de abril de 2025, por volta das 11.30. Sem qualquer aviso, Portugal viveu recentemente um dos maiores apagões da sua história. Enquanto na Madeira e nos Açores era um dia igual como tantos outros, em território nacional milhares de pessoas ficaram sem energia. Residências, empresas, hospitais, transportes públicos e até serviços de telecomunicações foram afetados em simultâneo.
Aparentava ser um dia como tantos outros, mas a interrupção da luz foi repentina e afetou de forma transversal diversos setores.
Num espaço aproximado de uma hora, as pessoas saíam do trabalho em direção às suas casas, outras se deslocavam às escolas para buscar os seus filhotes, e outras ainda corriam até aos hipermercados e bombas de gasolina. O trânsito era caótico. Com o metro e o comboio parados, o autocarro era o único transporte público disponível, sendo uma luta para se conseguir entrar.
De um momento para o outro, parecia que o mundo ia acabar.
Naquele momento, encontrava-me em casa. Pensei para comigo: “Daqui a nada, a luz já volta.” Como estava enganada. Ficámos sem energia por mais de dez horas.
Lá ia sabendo do que estava acontecendo através de familiares que estavam no centro de Lisboa.
Resolvi então ir à escola da minha filha ver se tinha ou não aulas. Ainda estou incrédula com a loucura que vi nas ruas: filas de gente à porta de mercearias, supermercados ou nas lojas dos chineses a comprar, em demasia, bens essenciais. De repente, águas, papel higiénico, enlatados, bolachas, sumos, pilhas, rádios, lanternas, fogões, velas… tudo isso desapareceu das prateleiras rapidamente. É nestes momentos que o ser humano mostra a sua verdadeira essência, o seu egoísmo e a sua mesquinhice. Pessoas a correrem e a levarem tudo o que podiam, sem pensarem no outro.
Quando regressei a casa, reparei que já não tinha rede no telemóvel. Mesmo com bateria, o meu telemóvel era me completamente inútil pois não conseguia ligar ou mandar um whatsapp a ninguém. Foi só neste momento que fiquei verdadeiramente angustiada, preocupada e impotente. O facto de estar sem luz, de não ter televisão, de não ter o frigorífico a funcionar, de não ter acesso à internet… tudo isso não me fazia diferença. O que me inquietava mesmo era não ter como comunicar e saber como estavam os meus. Sem comunicação, não tinha como saber dos meus filhos… só pensava: “se acontece alguma coisa com algum deles, como poderei saber? Será que eles estão bem?” Passado umas horas, eis que a minha família chega, sã e salva, a casa. Parece cliché, mas fiquei verdadeiramente feliz!
Sem luz e energia, e com um dia bonito como estava, agarrámos nos miúdos e fomos passear até ao parque. Jantámos umas sandes e jogámos monopólio. Confesso que até gostei deste dia em família, sem telemóveis, tablets ou televisões.
Este incidente mostrou o quanto somos vulneráveis. Dependemos de infraestruturas que, talvez não estejam preparadas para aguentar falhas desta escala.
No meio deste apagão, vimos algo que a luz constante dos ecrãs, tinha apagado: o amor da família. Famílias reunidas nas varandas, crianças a brincar nas ruas, vizinhos a conversar… Sem eletricidade, a vida real apareceu. Talvez este apagão nos tenha mostrado duas coisas: que temos razões para nos preocuparmos e precavermos para o futuro; por outro lado, que ainda existe, dentro de nós, a capacidade de viver de forma mais humana e mais presente!