O Mundo assistiu à eleição do Papa Leão XIV, líder da Igreja católica e simultaneamente chefe de um minúsculo Estado. A expetativa era grande depois do Papado de Francisco, o pontífice da esperança e da comunicação. A sua aparição na varanda de São Pedro transmitiu tranquilidade e firmeza. Alguém lembrou a virtude de um homónimo, seu antecessor, que iniciou a Doutrina social da Igreja na sua configuração atual e pacificou as relações da Igreja com o poder politico. Outros atribuíram-lhe a escolha do nome a São Leão Magno, doutor da igreja, papa da paz e da conciliação e um seguidor de Santo Agostinho.
Não deixa de ser relevante a importância que tem no plano internacional o Papa poder falar como chefe de Estado. As representações diplomáticas que tem em todo o Mundo responsabiliza e institucionaliza o papel da Igreja no plano internacional. Tinha razão a Igreja quando assinou o Tratado de Latrão reservando um pequeno espaço territorial à sua soberania. Sem essa institucionalização a eleição do Papa não devia ter a repercussão de teve no Mundo e no coração dos homens de boa vontade.
Também isso pesa na difícil escolha que os cardeais são chamados a ter em conclave. Conhecem os sinais do tempo e trazem na bagagem uma imensidão de experiências e vivências que depositam naquele cenáculo. Sabem que é Cristo que os impele a darem resposta ao Mundo de hoje e continuar a evangelização que assumiram no batismo e na ordem.
Independentemente da verdadeira origem dessa escolha de nome, Robert Prevost deixou-nos a certeza de que é um Papa para o nosso tempo. Atento à proliferação dos conflitos mundiais a sua primeira mensagem foi de Paz, não apenas de ausência de guerra mas a verdadeira paz que Cristo ressuscitado inspirou nos corações dos apóstolos. Paz que se confunde com diálogo, concertação de nações e de interesses. Paz que não é inércia mas vocação; que não é o menor denominador comum mas o verdadeiro fundamento para as relações humanas. O Mundo que deixou de ser bipolar e está preso hoje a tantos interesses antagónicos, precisa de alguém que os concerte, os agregue e lhes dê o sustento ético.
É feliz a coincidência de ser o primeiro Papa americano, estado-unidense de naturalidade. Não porque seja um “anti-Trump” como alguns apressadamente o apelidaram. A sua naturalidade envaideceu os EUA e até o seu Presidente que não sendo católico não deixou de reconhecer o relevo para a sua pátria. Mas tem um significado que é bom destacar: Trata-se de um americano tranquilo que conhece o mundo que contrasta com a sua naturalidade. Sabe da responsabilidade humana que ultrapassa as fronteiras e que não se cinge ao poder dos negócios ou do dinheiro.
Um Leão, porque de coração grande, não hesitou em dizer “esta Igreja, enquanto eu respirar, será um lar para os sem-abrigo e um descanso para os cansados. Deus não precisa de soldados. Ele precisa de irmãos.” É enorme a sua missão de reafirmar a Mater e Magister que o elegeu. É gratificante sentir que na desilusão desta espuma dos dias, há sabedorias que se realçam.
Ricardo Vieira escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas.