No próximo domingo teremos a segunda ronda de eleições deste ano, as eleições legislativas nacionais. O entusiasmo das pessoas não anda em níveis lá muito elevados, mas o facto é que teremos mais este importante desafio, e é preciso naturalmente marcar presença e votar. Independentemente de qual for a sua decisão, este momento marcará o futuro da política do país nos próximos (esperemos) quatro anos. Portanto, não fique em casa, sob pena de, no dia seguinte, ter quem não quer a governar, sem ter feito nada para que fosse diferente.
Mas efetivamente há coisas na política que, infelizmente, não deveriam acontecer. Tratar assuntos sérios com leviandade e simplicidade leva-nos, por vezes, a caminhos populistas e extremistas, como, infelizmente, se tem vindo a verificar, pouco a pouco, também em Portugal.
Um exemplo que hoje decidi trazer tem a ver com uma notícia desta semana que me chamou a atenção, tanto pela forma desbocada e mentirosa como pela simplificação de um processo complexo, vinda de alguém que deveria saber que contratação pública, de simples, não tem nada.
Venho, a este propósito, falar da iniciativa política da AD, cá na Madeira, que se referia à alegada incapacidade do PS em resolver o problema dos novos equipamentos de radar no aeroporto, dizendo que, pasme-se, em apenas três meses no Governo da República, a AD o teria resolvido. Resolvi, por mera teimosia, pois desconfiava que a história não seria bem assim, procurar informação sobre o assunto. E é caso para dizer que o senhor deputado da AD deveria pôr pimenta na língua, como bem dizem os fact check.
Pelas suas palavras, o candidato afirma que o Governo de Montenegro “não só decidiu que instalava, como decidiu quem pagava, neste caso a NAV, e instalou os radares, que já estão todos a funcionar e a recolher dados”. Tão simples e eficaz, se fosse verdade. É precisamente este tipo de falta de seriedade que muitas vezes arrasta a política para a lama. Confesso que não compreendo como alguém consegue usar este tipo de argumento sem hesitar.
Ora, como referi, fui à procura de fontes e verifiquei que o concurso para a aquisição dos novos radares do Aeroporto da Madeira foi oficialmente lançado em 2022, com publicação em Diário da República. Esse concurso, promovido na altura pela NAV Portugal, teve um valor base de 3,5 milhões de euros, numa altura em que Montenegro, evidentemente, ainda não estava no Governo.
Em junho de 2023 foi anunciado o vencedor do concurso, responsável pelo fornecimento e instalação do sistema, com um custo aproximado de 3 milhões de euros e um prazo de execução de 820 dias. O processo, entretanto, seguiu o seu curso. Portanto, quem decidiu, quem procurou financiamento, quem colocou tudo em marcha não foi o expedito Montenegro. Foi, sim, o Governo então liderado pelo PS.
Este exemplo serve apenas para mostrar a facilidade com que se distorcem os factos e com que se tenta simplificar aquilo que, de simples, nada tem nada. Tudo isto numa pequena tentativa de ir buscar mais uns votos. No entanto, o resultado é sempre o mesmo, abre-se espaço para os partidos populistas e extremistas, que se alimentam precisamente deste tipo de linguagem para prosperar.
Seria interessante que a AD se concentrasse em mostrar ao país o que pretende fazer com a economia. Afinal, as coisas não estão a correr de feição e já se registou uma quebra de 0,5% no primeiro trimestre. Isso sim, são consequências da governação da AD.