A agressividade na escola

Não é um fenómeno recente, este, mas tem assumido formas crescentes e mais gravosas quer pelos actos praticados quer pelas consequências, sobretudo para as vítimas. Todos, de uma forma ou de outra, já assistimos ou vivenciámos na escola a actos de bullying: o colega que era gozado porque não sabia ler, porque era daltónico, porque era mais gordinho, entre outras características físicas ou não, que aos olhos dos agressores os diminuíam. No entanto – e esta é apenas a minha percepção e memória – esses actos eram de imediato reprimidos pelos professores ou direção da escola e por norma tudo se normalizava, até porque o devido respeito (e obediência) aos professores era o mais comum entre nós, jovens alunos.

Mas os tempos mudam e nem sempre tal significa progresso ou evolução, pois, ao que se vai assistindo e ouvindo, a escola tornou-se, lamentável e preocupantemente, num local de multiplicidade de agressões a alunos, professores, colegas, entre si e contra todos ao invés do porto de abrigo seguro, acolhedor e complementar da educação e da vida de cada um.

Vem isto a propósito das notícias mais perturbadoras que li nos últimos tempos: a do suicídio de uma criança de 12 anos – bem sei, dizem as normas da comunicação que não se utilize a terminologia “suicídio” por causa do fenómeno, cientificamente comprovado, de Werther, mas uso-o intencionalmente, como alerta e expressão de indignação, porque é contra-natura que uma criança queira morrer; mesmo nos estados mais deprimentes da sua vivência, uma criança sonha viver, viver melhor num futuro que ela anseia e que, naturalmente, no curso comum de toda a existência e sobrevivência humana, a espera. Não sei em concreto o que terá perpassado pela vida desta menina, mas consigo dimensionar um sofrimento imensurável e inultrapassável(?) para que tenha sucumbido com tal desfecho. Fala-se em bullying, e é facto que esta ocorrência tem aumentado nos últimos anos nas escolas, de acordo com a APAV, pelo que é mais do que tempo que todos nós, sociedade e sobretudo responsáveis políticos adoptem medidas imediatas, concretas e eficazes para evitar desfechos trágicos como o desta criança.

Ocorre-me desde logo a necessidade do aumento de profissionais da psicologia nas escolas – reivindicação antiga e que ainda está longe de satisfazer o rácio escolar (onde incluo alunos e professores – também estes vítimas de bullying por parte de alunos e colegas; mas também estes, tristemente e não raras vezes também agressores, autores de histórias de insultos e humilhações a alunos mais vulneráveis).

Esta, é uma matéria de difícil actuação, mas é urgente que se adoptem medidas e atitudes conjuntas, entre o Estado, as escolas, os pais, os professores, os alunos e a sociedade, para combater a agressividade nas escolas, criando e regulamentando regras de disciplina na escola.

Uma escola não se limita a um espaço de educação e formação, é também um espaço de formação de cidadania, de direitos e de deveres, de cooperação e de valores. Não pode ser um espaço de violências contra os alunos, contra os professores e outros funcionários, e contra a sociedade. É urgente interferir nesta matéria: é inadmissível que os nossos jovens cresçam adoptando comportamentos de agressão e menosprezo para com os outros, que os pode marcar por toda a vida, comprometendo o seu são desenvolvimento, e o das sociedades futuras.

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