Deste compromisso de colaboração mensal, às vezes ressalta a dificuldade dum tema que nos encha e interesse a quem nos leia.
Desta vez, os assuntos dependurados aguardam escolha. Então, passemo-los em revista, dando jus ao título que sempre usei na minha crónica: «aquintrodia»! – um regionalismo de aqui outro dia, aqui há dias…Vou lançar pinceladas sem ordem cronológica, talvez conduzido pela emoção.
Escrevo a 25 de Abril. Deixem-me recordar que, no fim de ontem, contei 51 anos de regresso à guerra colonial, para a última etapa da comissão de dois anos. Aterrado em Moçambique, soube da euforia de Lisboa. Adivinhando o fim da guerra, celebrei a imensidão da alegre esperança que me atolava o peito, soltando as canções que antes nos saíam à socapa, exagerando nos copos que me toldaram a mente, mas libertaram angústias amarradas e contidas.
Sugiro uma pequena incursão a 50 anos atrás, a 25 de Abril de 1975, quando a democracia se solidificou numas eleições com a participação de mais de 90 % de votantes. Um povo agrilhoado por mais de 40 anos de ditadura acorreu à vontade em participar que lhe havia sido negada, ou deturpada, como na eleição de Américo Tomás contra Humberto Delgado, em 1958.Nesse Abril de 75, as primeiras eleições livres e universais em Portugal, para eleger 250 deputados à Assembleia Constituinte, tiveram filas longas, avançaram lentamente, porém de forma ordeira, calma, respeitadora, alegre pela concretização dum sonho.Afinal o povo é sereno e depressa aprende.
Abril foi despedida de Francisco. Francisco foi diferente. Despiu-se de grinaldas, simplificou rituais, autenticou gestos, espontaneizou o afeto, assumiu o perdão, tomou sobre os ombros a solidão da pandemia, abraçou irmãos distantes, provou que a santidade sabe rir, inovou a linguagem, escancarou portas, estendeu os braços, foi peregrino constante.
Também foi duro para quem desrespeitou, não fugiu ao embaraço. Francisco cativou gerações, lançou slogans que foram bandeiras, acolheu proscritos. Foi uma voz combativa e persistente pela paz, pelos valores, pela verdade. Francisco foi uma bênção num mundo em convulsão!
Em março, a Madeira foi a votos: Alcançada uma maioria estável, o povo madeirense demonstrou cansaço de jogos e danças de poder. Entregou a responsabilidade da governação e aguarda serenamente por medidas que lhe dêem qualidade à vida, harmonia, diminuição de custos , salários adequados, trabalho generalizado, erradicação da pobreza, situação social justa, subsídios a quem mereça e necessite, diminuição da carga fiscal, combate à corrupção, atenção aos cuidados de saúde, acesso à educação e formação profissional, valorização das actividades culturais… A expectativa é naturalmente enorme, após anos desbaratados por manobras e diversões. É hora de cumprir rumos e objectivos, em consonância com o programa sufragado.
E que as oposições saibam exercer a função com responsabilidade madura, não transformadas em meros «bufos», sem alternativas fiáveis e realistas.
18 de maio próximo, mais eleições. Desta vez, para a República. Os debates têm sido a forma preferencial de campanha. Duvido da sua eficácia. Não me apercebo da preocupação de esclarecer programas e projectos.
Apercebo-me da vontade em denegrir ou sobrepor-se ao debatedor adversário, em causar-lhe embaraço, ou destruir-lhe a credibilidade. E no fim… que fica nos ouvintes?
A chusma dos comentadores compraz-se nas classificações, puxando a brasa aos da sua «simpatia ou cor» e o povo segue por esclarecer e motivar… Alguém se admira que a resposta seja a ausência indiferente?
José Alberto Gonçalves escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas.