Apesar de alguma normalização de comportamento político obscurantista pelo mundo fora, a Europa continua a ser um farol para os princípios da democracia liberal no mundo. Seja no domínio dos direitos humanos, no apoio à liberdade académica, no compromisso com o comércio livre, ou ainda no estabelecimento de metas de defesa ambiental. Ao invés de sonhar com autoritarismos distantes, convém que a Madeira permaneça firme nos seus compromissos civilizacionais europeus.
Esta semana foi divulgado o relatório conjunto do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do programa da União Europeia Copernicus (C3S) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que este ano fornece uma visão alarmante sobre as condições climáticas na Europa em 2024. Eis alguns dados preocupantes que o relatório “Estado do Clima Europeu 2024” apresenta:
1. Temperaturas Extremas: Quase metade da Europa registrou temperaturas anuais recordes, e 60% do continente enfrentou um aumento significativo de dias com “stress térmico forte”.
2. Chuvas Fortes: A Europa Ocidental teve um dos dez anos mais chuvosos desde 1950, resultando num aumento das inundações desde 2013.
3. Cheias e Impactos: Cerca de um terço da rede fluvial experimentou grandes cheias, afetando a vida de aproximadamente 413.000 pessoas e resultando em, pelo menos, 335 mortes.
4. Custos das Alterações Climáticas: Os fenómenos climáticos extremos em 2024 causaram danos económicos estimados em 18,2 mil milhões de euros.
5. Incêndios florestais: 42.000 cidadãos europeus foram negativamente afetados por incêndios florestais em 2024. Uma nota particularmente gravosa para Portugal: um quarto do total anual de território queimado na Europa corresponde a território ardido português (1100 km2).
6. Crescimento das Energias Renováveis: O relatório também demonstra que o número de países da UE em que as energias renováveis geram mais eletricidade do que os combustíveis fósseis quase duplicou desde 2019, alcançando 20 países, com as energias renováveis respondendo por 45% da eletricidade gerada na Europa em 2024.
7. A defesa do ambiente começa no poder local. Somente metade dos municípios europeus já desenvolveu Planos Municipais de Defesa Climática. Em Portugal os municípios encontram-se obrigados pela Lei de Bases do Clima, de 2021, a implementar o seu próprio Plano Municipal de Ação Climática (PMAC) até fevereiro de 2024, mas até à data de hoje somente 51% dos municípios cumprem. De acordo com a 3.ª edição do Mapa de Ação Climática Municipal da Get2C, nenhum município madeirense cumpre na íntegra todos os critérios do ranking autárquico ambiental.
O relatório é lapidar: nenhum continente está a aquecer tanto como a Europa. Esses dados refletem a urgência das questões climáticas na Europa e a necessidade de ações decisivas para mitigar os impactos das alterações climáticas.
Nenhum nível de poder pode continuar a defender o extrativismo totalitário da economia. A prática do “Quer queiram, quer não”, não é aplicável à atividade dos agentes políticos e económicos em democracias liberais, ainda para mais quando entra em choque com a defesa do nosso maior tesouro, o meio ambiente. Tal como a autonomia não pode ser usada no discurso político nacional como argumento para permitir excepcionalidades que nivelam por baixo as sociedades, também a ultraperiferia não pode servir para justificar padrões ambientais mais “relaxados”.