Apressa-te. Lentamente.

O problema da instabilidade resolveu-se com o veredicto soberano do Povo. Com ele veio uma responsabilidade reforçada para uns – os que venceram as eleições – e um castigo severo para outros – os que perderam as eleições. No primeiro lote, estão os sociais-democratas, que vão governar, e os verde-populistas, que vão liderar a oposição. No segundo lote, estão os populistas, que chantageavam com a espada suspensa de Dâmocles, e os socialistas, que os seguiram à boleia de um delírio, a esperança do poder caído, do nada, no colo.

Lida a sentença, eis um governo novo, um governo que arregimenta novos protagonistas mantendo um trio experiente, onde se inclui o Presidente. Com naturalidade, revela-se ambição e sentido de serviço público. E uma vontade de continuar a transformar a Madeira, aproveitando os ventos internos de feição para recuperar o tempo perdido, corrigir defeitos, mexer peças, minimizar erros, reforçar políticas – tudo sem esquecer os direitos autonómicos que os madeirenses exigem e querem ver cumpridos. A legitimidade conferida pelo Povo madeirense implica assim iniciativa, não procrastinação; implica humildade, não soberba; implica comprometimento e persistência, não apatia e volubilidade.

Os novos secretários terão, claro, os famigerados 100 dias – o tempo que mediou entre a fuga de Napoleão da ilha de Elba e a sua queda em Waterloo – para mostrar ao que vêm, um momento que nenhum deve desperdiçar. Pelo meio, há um programa de governo para aprovar, certamente reformulado, e um primeiro Orçamento para ser desenhado e cumprido. Portanto, o governo no seu todo deve ser um concerto – uma orquestra afinada, onde cada músico conhece a sua partitura, desempenha um papel, não desafina e entende, seguindo, o seu maestro. O resto é, suponho, seguir alguns dos princípios da mais alta, pura e dura política, incluindo a de Maquiavel: o mal todo de uma vez, o bem aos poucos. Até porque em política, o estadista não faz o que quer, faz o que tem de ser feito.

Augusto, filho adoptivo de César e primeiro imperador romano, sabia o quão necessário era ter um caminho firme feito de urgência serena. Por isso, dizia a cada um dos seus generais: “Apressa-te. Lentamente.” – um oxímoro que significava agir com prudência. Vamos a isso.

DEBATES

Tenho gostado dos debates na televisão. Não que isso vá mudar o meu voto – por aí seria uma perda de tempo –, mas porque acho importante ouvir (um defeito meu de fabrico) o que é dito. Com essa consideração, vejo os contendentes preparados, representando-se dentro de uma certa normalidade e de acordo com aquilo que são no seu dia-a-dia. Não me têm desiludido, têm sido iguais a si próprios, embora note uma ou outra mudança de fundo porque o momento assim o exige.

O pior mesmo, é o exercício manhoso pós-debate a que as televisões se dedicam para “classificar” as prestações dos políticos através de pontuações. No limite, resumem os trinta minutos a um combate de boxe definido aos pontos – com um vencedor e um vencido – ou a um jogo de hóquei em patins, com golos para todos os gostos. Infelizmente, a maioria parece sofrer de clubite aguda e assim não entender a missão que lhe foi confiada. Certas análises, inclusive, induzem-me a pensar que andaram a ver outra coisa qualquer.

Perante o cenário, sou mais cordato: admito que um debate possa não correr bem por causa de um dia menos bom; que um político possa dominar pior ou melhor certos assuntos; que certos temas sejam mais ou menos promissores; ou, como alguém um dia identificou, que as qualidades necessárias para se ser um bom primeiro-ministro possam não ter nada que ver com as qualidades necessárias para se ganhar eleições.

Aristóteles identificou, na sua Retórica, os três métodos principais de persuasão que ainda hoje são trilhados no discurso e na retórica política: o Éthos, o Páthos e o Logos.

O primeiro diz respeito à persuasão pelo carácter, pela autoridade e pela credibilidade do orador. O segundo tem que ver com a persuasão pela emoção, pelo apelo aos sentimentos e pela imagem que se transmite ou constrói. O último remete-nos para a persuasão pela lógica dos argumentos, no fundo, para a racionalidade, clareza e exequibilidade das propostas.

Neste enquadramento, num debate televisivo não se sai melhor aquele que os comentadores, por vezes, elevam ou repudiam conforme simpatias ou antipatias pessoais; sai-se melhor, sim, aquele que melhor combina e desenvolve os três elementos. Contudo, refutar esta quase evidência explica boa parte da alienação em que vive um certo género de comentário.

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