Há quarenta e sete anos quando, trabalhando do INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO DAS PESCA em Algés, o então Secretário Regional da Agricultura e Pescas Dr. Gaudêncio Figueira convidou-me para assumir a gestão da Direcção Regional das Pescas do Governo Regional da Madeira, então liderado pelo Dr. Alberto João Jardim. Naturalmente e já com a família a viver na Madeira, aceitei de pleno, todavia ciente de não disfrutar de qualquer experiência política para o efeito.
Estávamos no início do processo de adesão ao Mercado Comum pelo que, na circunstância era necessário remeter para Bruxelas toda a informação disponível, tendo em vista, como não podia deixar de ser, constituir-se o chamado …. “Quartel-General das Pesca da CEE “…… com o fim de conhecer, após as projecções matemáticas, quais os stocks disponíveis para que a pesca comercial dos próximos, anos não faltasse. Claro que não foi possível conjugar tudo em simultâneo, sobretudo sem pessoal tecnicamente preparado para tão delicada tarefa. Foi muito difícil, ou seja, gerir o sector localmente e ao mesmo tempo satisfazer os pedidos de Bruxelas. Lá fomos empurrando, mas conseguimos.
Num outro domínio – o das áreas costeiras marítimas e nesta matéria Portugal disfruta da 2ª maior área da União Europeia, não só destinadas às pescas ribeirinhas, que no Quadro das Nações Unidas se designa por Lei das 200 milhas que, vinha desde há muito, a ser necessária com o fim de proteger as espécies, cujos mananciais se reproduzem, vivem, são pescados e morrem junto às costas. Ou seja, nessa altura foi muito trabalho ao mesmo tempo e quando assim é, pouco ou nada fica bem feito, mas teve que ser. Entretanto, e com um levantamento dos casos mais urgentes a desenvolver, propus ao Sr. Secretário que os funcionários mais novos fossem estagiar nos laboratórios para a “escola “por onde muito aprendi — o INIP, cujo pedido foi de imediato aceite, ou seja para a FORMAÇÃO. Aliás, este país está a precisar em praticamente todos os sectores com particular destaque no Estado, de FORMAÇÃO. Era o início de uma nova era: substituir a ignorância pelo saber, aliás a entrada de Portugal para o Mercado Comum obrigava mesmo a uma formação praticamente permanente e que até devia ser obrigatória. Nas primeiras reuniões com os nossos parceiros estrangeiros, notamos que já falavam a linguagem deste sector; da biológica; das matemáticas; dos modelos de avaliação a todos os níveis e nós portugueses limitávamo-nos a abanar a cabeça, mas com a tristeza da ignorância estampada nos nossos rostos. Enfim, foi uma época segundo a qual tive ocasião de evoluir, todavia com os profissionais deste sector. Notava-se que eram todos portadores dos conhecimentos técnicos (laboratórios; do defeso; dos stocks haliêuticos e muito mais; que falavam a linguagem da Oceanografia; das Embarcações, das Artes de Pesca; da Navegação; da Biologia e muito, mas mesmo muito mais.
Vamos percebendo que o sector das pescas deve ser aquele que do ponto de vista da Natureza, é o mais difícil de trabalhar porque o controlo das espécies é feito não só matematicamente como também no laboratório com as respectivas amostragens, ou seja, esse controlo está fora do alcance do homem.
Num outro domínio – o do habitat natural, recorde-se que, nas nossas 200 milhas, atravessam os altamente migratórios, para os quais deve haver um estudo (vigilância) muito específico. Por outro lado, estamos confrontados com espécies pelágicas e de profundidade. Como vamos percebendo esta CRÓNICA dada a sua natureza e dimensão poderá dar lugar a muitas outras com o devido desenvolvimento.
Espero, que actualmente os seus funcionários já possam falar toda a linguagem que atrás referi porque só assim se pode progredir acompanhando os nossos parceiros europeus.
Para o cidadão comum que aprecia um bom prato de peixe, quando sentar-se à mesa para uma excelente refeição, de certeza que com os nossos profissionais será bem servido. Resumindo: juntando a questão científica com a área empresarial e simultaneamente com a comercial, penso estarmos bem apoiados.
Os nossos pescadores conseguem vencer todas as dificuldades do dia a dia e sobre esta matéria, é minha intenção, não só continuar a escrever, como e se me for solicitado, dar um contributo na solução dos problemas que mais os afectam de forma a manterem esta actividade 100% operacional e enriquecida.