Noutro dia, senti que envelheci. Não foi quando tive filhos, não foi quando me casei. Não foi quando comprei casa, nem quando tive carta de condução. Tão pouco foi quando acabei o curso ou quando assinei o primeiro contrato de trabalho.
Foi num instante banal, mas avassalador: ao perceber que todos os jogadores de futebol são mais novos. Pior ainda, estou na idade de um jogador em fim de carreira. E eu nem sequer jogo futebol.
A sensação de velhice também veio quando me apanhei a falar dos anos 2000 como se tivessem sido ontem, quando, na verdade, já passou um quarto de século. Como é que o tempo se escapou assim?
Mas o que é, afinal, a velhice? Será apenas uma etiqueta social? Serei agora vítima de idadismo? Talvez, especialmente quando me dou conta de que os adolescentes já me olham como alguém de outra era. Sou da geração Y, dos famosos Millennials, aqueles que, vejam só, já estão a chegar ao poder. O próprio J.D. Vance, o novo vice-presidente dos Estados Unidos, é um dos nossos.
Este sentimento, apesar de parecer espontâneo, construiu-se lentamente. Hoje, prefiro ficar em casa a sair à noite. Um bom filme, um livro que andava a adiar, um copo de vinho… pequenos prazeres que outrora pareciam coisa de “gente mais velha”. Até a minha noção de música “nova” ficou congelada no tempo. Para mim, algo recente ainda é Numb, dos Linkin Park… mas até o Chester já partiu.
Há sinais mais evidentes. O mais cruel de todos? Ser chamado de “senhor”. Os colegas dos meus filhos dizem-no sem hesitar. Até os estagiários no trabalho já me tratam por “senhor engenheiro”. O quê?! Sempre imaginei um engenheiro como alguém de fato e gravata, e eu continuo a andar de calças de ganga e, às vezes, propositadamente despenteado para parecer mais radical. Mas, pelos vistos, não engano ninguém.
Fisicamente, os sinais também estão lá: entradas na calva que já não são apenas entradas, mas um convite descarado à calvície. E, no entanto, sinto que ainda preciso dos meus pais. Como posso ser velho se o meu pai ainda é o meu “adulto premium”? Se ainda há momentos em que o procuro para me dar certezas sobre o mundo? Mas dizem-me amigos mais velhos, que ainda se interrogam: se o meu pai estivesse o que faria neste caso? Mas não faz sentido. Não posso estar velho. Nem pensar.
Mas então admito. Não sou mais um revolucionário. Já não me imagino a fugir para a clandestinidade. Inter-rails e hostels? Fiz alguns, mas já não me vejo a partilhar um quarto com mochileiros de vinte anos. Há um tempo para tudo.
Talvez o verdadeiro sinal de envelhecer não seja a queda de cabelo ou o número de velas no bolo. Talvez seja aquele momento em que percebemos que temos mais histórias para contar do que sonhos para realizar. Quando os nossos sonhos começam a ser os dos nossos filhos.
E, no fim, talvez seja esse o equilíbrio da vida. Talvez envelhecer não seja perder a juventude, mas trocá-la por um novo papel na grande epopeia da existência. Se for assim, que venha o futuro – com rugas, cabelos brancos e histórias épicas para contar e repeti-las vezes sem conta.