Que saudades!…

Este tempo de campanha eleitoral (?)!…

Plagio os Textos Sagrados, chamando-o “tempo de trevas”, dada a pobreza dos conteúdos e das perspectivas (não) apresentadas quanto ao futuro da Madeira.

E também pelo desinteresse generalizado que provocou.

Até lhe faltou Alegria!…

Porém, este prolegómeno do acto de votar, empurra-me para donde sempre procuro fugir: o campo da saudade.

Agora reavivado de outras épocas eleitorais.

Como que ressinto a Alegria que eu vivia quando fazia campanhas. Quando fazia inaugurações. E quando, de quatro em quatro anos, com os meus Colegas de Governo íamos, Freguesia a Freguesia, debater o Programa de Governo com a população.

Claro que tudo isto “puxava pelo esqueleto”. Sobretudo, obrigava à “cabecinha” concentrada. Por muito grande que era a informalidade no convívio com o Povo, havia que estar sempre rigorosamente atento.

As campanhas eleitorais eram uma coisa. A discussão do Programa do Governo, Freguesia a Freguesia, era outra, pois tinha de ocorrer antes dos períodos de campanha eleitoral, para que não houvesse confusão entre o Governo Regional e o Partido seu suporte.

Das campanhas eleitorais, as mais fáceis eram as “regionais”. Talvez porque, antes, o Governo já tivesse acertado o seu Programa com a população.

Das outras campanhas, as mais difíceis eram as “autárquicas”.

O problema nem sequer era o candidato a Presidente da Câmara Municipal, já escolhido nos moldes que tive ocasião de narrar, aqui no “J.M.”.

O problema resultava e resulta de as listas incluírem muitas pessoas.

O Leitor está a ver. Num meio pequeno, estruturado em relações de proximidade vicinal, é difícil não existir alguém que embirre com algum outro.

Depois, sucedia que falhas administrativas, não de responsabilidade governativa, mas de competência autárquica, desconhecidas do Governo, acabavam por ser apresentadas ante a nossa ignorância!…

A população da Madeira, fora das poucas grandes concentrações urbanas, caracteriza-se por uma dispersão habitacional no território.

Assim, só se conseguia concentrar a população em número minimamente ideal, aos fins de semana.

Fosse qual fosse a natureza de cada campanha eleitoral, nos três fins-de-semana anteriores ao Domingo de eleições, cobríamos todo o território com Políticos de cada localidade e com reforços mobilizados no Funchal.

No Funchal, nessas três semanas, a campanha era sítio a sítio, através de contactos pessoais e da Comunicação Social, todos os dias.

No Porto Santo, a par do Trabalho das equipas locais, durante cada uma dessas três semanas, havia sempre uma deslocação semanal de uma equipa do Funchal.

Eu chamava a mim as decisões sobre a imagem e dizeres dos cartazes, como a organização dos tempos de antena na televisão. Todo o resto era com o Secretariado Regional do PSD, uma equipa pequena, mas fora-de-série!

Fazer fotografia para cartazes, era um inferno! A pose tinha que estar de acordo com os dizeres. Calculem o que, por vezes, era escolher entre duzentas fotografias, quase todas iguais!…

Proibido, era o ridículo de postar-se junto a um muro, sem enquadramento de população, e para aí convocar a Comunicação Social, e debitar prosa.

Como custava levantar às 5 da manhã!

Quando eu entrava no carro do Jaime Ramos, dizia por brincadeira: “Ah Dr. Salazar, que no teu tempo isto não era preciso!…”

Depois, às vezes, começava-se a confraternização popular em Câmara de Lobos, com poncha obrigatória, nem o Sol estava nascido.

Em cada sábado e domingo chegava a uma dúzia de comícios, maiores ou mais pequenos.

Para dar tempo a montar o cenário numa localidade próxima de onde havíamos terminado um comício, o Jaime guiava como um louco, de um extremo a outro da Ilha, para novo comício, e retorno a outro, de novo em local geograficamente oposto.

Como a PSP tem a responsabilidade de acompanhar quem seja o Presidente do Governo Regional, mesmo quando não está publicamente nestas funções, os carros da Segurança chegaram a não aguentar a velocidade e manobras do nosso.

Tive a sorte de os Agentes do Corpo de Segurança serem Todos Pessoas fantásticas. Quando as Suas viaturas ficavam “encostadas”, arrumávamo-nos todos no carro do Jaime Ramos. Mas os Senhores Agentes não negarão que se divertiam!…

Confesso que, lá depois das 10 da noite, chegava a casa… de rastos!

As deslocações do Governo Regional às Freguesias eram mais formais.

Quatro em quatro anos, DURANTE 11 FINS-DE-SEMANA, antes do período de campanha eleitoral, estávamos “presos” e a sair da caminha ainda de noite, única maneira de estar com uma maioria esmagadora da população.

Em cada Freguesia, apresentávamos o Programa de Governo, sobretudo nas partes mais estritamente ligadas ao respectivo Concelho. E discutíamo-Lo com o Povo, acompanhados pelos Técnicos hierarquicamente mais responsáveis.

Chegávamos a acordo quanto ao Programa, não tendo sido poucas as vezes em que, sem grandes alterações nas verbas disponíveis, fazíamos mudanças graças às informações do bom-senso do Povo.

Como explicávamos que o comprometido era para ser INICIADO ao longo desses 4 anos, visto as verbas também serem arrecadadas ao longo do quadriénio.

Este trabalho explica muito das maiorias absolutas.

As Pessoas não só fiscalizavam o cumprimento do combinado, como não iam votar contra um Programa em cuja feitura haviam participado.

Era duro. Mas que saudades!…

Quer do ambiente de Amizade e de Alegria entre as equipas do Governo ou do PSD, quer do partilhado com Todos com quem falávamos e interagíamos.

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