“Tudo tem uma explicação”, pensamos nós. Principalmente quando achamos que essa nos é devida. Já quando, por vezes, é a nós que é imposta, a coisa já fia mais fino.
Eu falo por mim, é raro o dia que a minha mulher não me pergunta como vai ser o meu dia. E eu não gosto de dizer. Não que tenha algo a esconder. Longe disso! Mas antes porque eu não faço ideia. Não sei se vão aparecer urgências. Se vou ter quem, sem respeito por quem trabalha com agenda e marcações, se esquece ou simplesmente não aparece. Se se vão atrasar. Se eu me vou atrasar. Não sei! Sei que tenho hora de entrar, mas não tenho de sair.
Ela não entende isso. Aborrece-se. Promete que “foi a última vez que te perguntei alguma coisa”. Confesso que isso antes incomodava-me. A ideia de que nunca mais se importaria comigo era algo que me tirava o chão. Hoje lido melhor. Sei que daí a nada já se esqueceu da promessa e voltou com as questões. E eu gosto dela assim…
Tal como vinha a gostar (bem, de maneira diferente claro) de Montenegro. O fulano, quando foi eleito primeiro-ministro, não me parecia tão bom. Com o tempo foi ganhando músculo e engrossando a voz. O tipo que só chegou a São Bento por vontade de tirar de lá o anterior, fez-se homem. Mesmo sem maioria absoluta ia conseguindo levar a água ao seu moinho. Só que, quando menos se esperava, alguém se lembrou de ir verificar se o caudal batia com as calças. E quem as vestia.
No caso, inicialmente, era a mulher e os filhos. Ele tinha-as despido. Só que ficaram-lhe pelos joelhos! No fundo, tirou-as, mas não tirou. Ao ser encostado à parede, lá ficou em cuecas. Para alguns não era suficiente. Queriam ver-lhe o rabinho. E ele mostrou. Chegou a pôr-se de 4! Só que já era tarde…
O PS e o Chega queriam mais. Queriam explicações. Queriam tim tim por tim tim. Curiosamente os mesmos que nunca se preocuparam em esclarecer o que se passou com José Sócrates, a senhora sua mãe e um amigo. Ou com os milhares de euros encontrados no gabinete do chefe de gabinete de António Costa. Tão pouco com a ligação de Pedro Nuno Santos à embrulhada da Tap. Nem aos ajustes diretos, pelo estado, a empresas do seu pai. Quanto aos “justiceiros” de direita que vinham para “limpar Portugal”. Como se explica que um único partido consiga reunir tantos malfeitores? Um que rouba malas. Outro acusado de prostituição de menores. Outro sei lá mais o quê. Valha-me Deus. Nem o nosso Presidente da República nos safa. Até esse teve dificuldade em justificar um tratamento privilegiado a duas gémeas estrangeiras, filhas de um casal amigo do seu mais velho.
E o pior de tudo? O pior é que tendemos a normalizar este tipo de comportamento e a procurar escolher o menos desonesto. Um pouco “do mal o menos”.
E assim, a páginas tantas, já todos se sentem no direito de fazer como viram fazer sem se preocuparem em perceber que o errado vai ser sempre errado ainda que todos o façam. Sim, desviar porque os outros desviam, não devia ser opção. Tanto é que, à conta disso estão 18 funcionários do Pingo Doce de Santo António “encostados” por serem suspeitos de desviarem artigos.
Ou um bancário esteja a responder por ter desviado mais de 230 mil euros para sustentar o vício das apostas desportivas. “É mais forte do que eu”, disse ele. Então e eu não sei? É o que todos dizem…
Isso é que estão arrependidos! Palavra de honra. Então não é que um dos foragidos de um estabelecimento prisional do continente, entretanto recapturados, esteve um mês inteirinho a “laurear a pevide” no estrangeiro sem demonstrar qualquer remorso? Mais, no momento da detenção recusou a extradição para Portugal. Porém, agora, porventura farto de estar numa prisão a sério, “arrependeu-se de tudo o que fez” e desespera pela transferência para o jardim de infância de Vale de Judeus. Coitado do anjo. Uma vez que as autoridades não estão a ser tão rápidas como ele foi a fugir, decidiu fazer greve de fome. E eu, solidário, vou fazer igual. Logo, depois de jantar, não ceio. Acabou-se.