O Cansaço eleitoral

Tenho feito campanha pelos labirínticos, porém idílicos e telúricos, caminhos de Santo António. É um local especial pois encontramos um tipo de eleitor que concilia a ruralidade com a vivência urbana. O madeirense típico. E o que nos diz esse eleitor? Fundamentalmente está farto de eleições. Já ninguém aguenta. É um pouco como a liberdade. Quando é “excessiva” deixa de o ser. Passa a libertinagem, anarquia. “Excesso” de eleições não é democracia, mas a sua antítese. Ontem a senhora Luísa dizia-me, num desses becos da cota 500: “em Lisboa queixam-se que estão sempre com eleições… é porque não vivem na Madeira, que temos o dobro. As de lá e as de cá”. Pois é, senhora Luísa… o país, Madeira incluída, entrou num processo de italianização da política. Dado o contexto político mundial, alguém que aterrasse d’outro planeta pensaria que o país, e a Região, vivem numa profunda crise económica e social. “Só que não”, como diriam o meu Tomás e a minha Júlia, já em fase de despertar para o mundo que os rodeia. O país está em franco crescimento económico, com superávits orçamentais, e diminuição da dívida pública. Apesar de algum alarido relativamente á imigração, cujas medidas do governo da república vieram corrigir, vive-se em paz social. Na Madeira atingimos o maior PIB de sempre. A taxa de empregabilidade e os mínimos de desemprego estão em linha com o que acontecia há 20 anos, no pico das obras públicas. Tudo isto apesar da profunda instabilidade política que se abateu sobre a nossa terra. O problema maior prende-se com a habitação, mas está em marcha o maior investimento público em fogos das últimas décadas: 59 mil no continente, 1400 na Madeira. E, como referiu, e bem, Albuquerque, não há excesso de habitação de luxo na Madeira. há défice. Se houver mais habitação de luxo, que faz movimentar a economia, os estrangeiros não terão de refugiar-se em fogos do sector abaixo, destinado à classe média, subindo os preços. Cá, como lá, o problema não é de governação, mas de governabilidade.

Santana Lopes aponta, e com razão, a existência de double standards (critérios diferentes) quando a falha é da esquerda ou da direita. Realmente existe a comparação entre Costa ou, imagine-se(!), Sócrates com a situação de Montenegro. Existe, inclusive, a discussão sobre “como pode o primeiro-ministro ser candidato na condição de arguido?”. O ruído é tanto que julgo que a maioria da população julga que é essa a sua condição. Não é. Tal como a abertura de uma averiguação preventiva por parte da PGR não quer dizer que Montenegro seja suspeito de algo. É até o oposto. Após as costumeiras denúncias anónima o PGR disse que não há nenhuma matéria nestas que justifique abrir um inquérito. Até seria curioso perceber o conteúdo destas. Se Pedro Nuno, quando questionado, não conseguiu identificar o objecto da CPI, se os deputados do Chega e do PS têm dificuldades em elencar que dúvidas subsistem, qual o conteúdo criativo daquelas denúncias? O governo não perdeu 13 governantes em ano e meio. Nem foram encontrados 76 mil € escondidos em caixas de vinho, ou cenas de pancadaria em ministérios.

Vivemos uma espécie de puritanismo do sec. XXI. A pureza populista de procedimentos. No país pelo Chega. Sem que tenha correspondência com a prática, dados os escândalos que conhecemos. E se Ventura mostrasse a sua declaração de rendimentos, haveria um choque. Na Madeira, é cartilha, há 10 anos pelo JPP. Soluções fáceis para problemas complexos, apanágio dos populistas, como se um ferry e uma bilha de gás resolvessem o que falta resolver. A prática também não bate com a narrativa. Brigas familiares, acusações de favorecimento, contratações exteriores contestadas, emissão de faturas de IMI (ilegal, pois é reserva da AT) com consequente sobrefaturação da autarquia, entre outras peripécias.

Lá no alto, o jovem João dizia-me: “eu não voto em pessoas, mas em programas, num ideário partidário”. Percebi a mensagem. Um colega de campanha procurava argumentar, julgando que o João estaria contra. Pedi ao meu companheiro para o deixar João concluir. “O partido que tem os melhores quadros, e o ideário que modernizou a Madeira, saberá encontrar as melhores soluções no momento certo”. É isso mesmo João. Estamos fartos de eleições e o tempo não está para experimentalismos nem demagogias.

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