Paulo Azevedo foi à Ribeira Brava falar de superação. O orador que nasceu há 43 anos sem pernas e sem braços foi o convidado do Colóquio de Saúde organizado pela Câmara Municipal, e não deixou ninguém indiferente à sua história de vida marcada por muita luta e determinação.
Cresceu a ouvir que não poderia andar ou fazer as coisas banais que todos fazem. Só que não. A garra, a coragem e o amor de uma família determinada fizeram-no acreditar que poderia ser dono da sua vida. E assim foi.
Nesta conversa com o público, contou como superou as dificuldades sem nunca deixar de sonhar. Jogou futebol, andou de moto 4, estagiou com o José Mourinho, conviveu com o plantel do Real Madrid, tirou carta de condução e é pai de duas crianças.
“O pior inimigo de ti próprio és tu e o teu maior aliado também. Tu és o dono das tuas decisões”, afirmou, salientando que quando a vida nos passar rasteiras, decidimos se ficamos deitados no chão ou se nos levantamos e continuamos a lutar pelos nossos objetivos.
E acrescentou: “Misturamos muitas vezes as palavras impossível e difícil. Colocamos as duas dentro do mesmo saco, damos dimensões exageradas aos nossos problemas e diminuímos as soluções para os resolvermos. Mas nunca nenhum problema é maior do que tu. O difícil não significa impossível”.
Olhando para uma plateia de jovens e de seniores, e tendo por base a sua história de vida, referiu que não há obstáculos ou dificuldades que não se consiga contornar. É preciso sair do caminho mais fácil para seguir o caminho que nos leva a enfrentar as dificuldades.
Num mundo de batalhas constantes, deixou uma garantia: “A tua vida depende de ti, só tu podes ser o teu maior aliado ou o teu maior inimigo”.
O Colóquio teve como tema central a saúde mental. Jorge Santos, presidente interino da autarquia, deixou um alerta. “Se estás atravessando um inferno, continua andando”. Uma frase que “traduz bem o que significa viver momentos de dor emocional, de ansiedade ou de depressão, mas aponta para algo essencial: há sempre um caminho adiante e uma luz de esperança”.
Durante demasiado tempo, a saúde mental foi um tema esquecido, marcado pelo silêncio e pelo estigma, mas hoje cuidar da mente é tão vital quanto cuidar do corpo.
Embora o município não tenha competências específicas nesta matéria, graças ao governo e às parcerias com instituições privadas, a Ribeira Brava procura responder a essa necessidade. “Contamos com psicólogos familiares nos centros de saúde, clínicas privadas e uma cobertura quase total de médico de família. A nossa rede de apoio social, com lares de idosos, uma unidade de Alzheimer e lares intergeracionais, entre outros, tem sido essencial para proporcionar apoio e combater a solidão, sobretudo entre os mais vulneráveis”, afirmou.
Por sua vez, Herberto Jesus, presidente do Conselho de Administração do SESARAM, referiu que há hoje uma grande preocupação com a saúde mental da população e deixou um alerta: “Sejam ativos, aprendam sempre, queiram estar informados e desenvolvam as capacidades cognitivas porque o nosso cérebro tem mais dificuldade em envelhecer se nos mantermos em alerta”.
Destacou o papel determinante das autarquias que, por estarem mais próximas das pessoas, devem ajudar na promoção da saúde e facultar informação aos cidadãos para que sejam cada vez melhores.
O colóquio contou ainda com as intervenções do psiquiatra Jorge Velosa, da psicóloga Alexandra Mendes e da Diretora Regional da Saúde, Bruna Gouveia.