A atração e retenção de talento está, desde há uns anos, na agenda de todas as organizações. São muitas as áreas que lutam contra esta falta de recursos que é um facto. Não faltam iniciativas para delinear estratégias, estudos e os fóruns de discussão multiplicam-se em torno do tema. No entanto, muitas empresas estão a falhar num ponto essencial: o reconhecimento e o respeito pelo esforço daqueles que procuram uma oportunidade e estão dispostos a trabalhar.
– Dizem que esta geração não quer trabalhar, mas a verdade é que enviei mais de 60 candidaturas espontâneas e só uma me respondeu! Eu quero trabalhar, mas se nem me chamam – dizia-me uma jovem de 22 anos com um cv próprio para a sua idade, porém, com detalhes interessantes.
Nos últimos meses, foram três os jovens com perfis promissores com quem falei. São pessoas qualificadas, motivadas, preparadas para enfrentar desafios e contribuir para o crescimento das organizações. Todos eles enviaram dezenas de candidaturas – algumas para processos em aberto, outras de forma espontânea, tentando criar uma oportunidade onde, à partida, não existia. O resultado? Da vasta lista de empresas para as quais enviaram os seus currículos, menos de três tiveram a consideração de dar qualquer tipo de feedback. De notar que muitas das candidaturas espontâneas que enviaram foram para empresas que admiram, seja por que razão for. Estamos por isso a falar, à partida, de promotores das empresas/marcas a quem pedem uma oportunidade e que, tal como os Clientes, poderão deixar de o ser!
Este comportamento das empresas levanta questões profundas sobre a forma como o talento é (ou não) gerido desde a base. Por um lado, os departamentos de Recursos Humanos investem em employer branding, participam em eventos de recrutamento e promovem a ideia de que valorizam as pessoas, por outro lado, a realidade dos candidatos conta, por vezes, uma história diferente. Para quem está à procura de trabalho, o silêncio é a resposta mais comum o que mina a motivação, desvaloriza competências e desumaniza um processo que, em última instância, devia ser de descoberta mútua.
Muitos dos departamentos de recrutamento recebem centenas ou mesmo milhares de candidaturas e responder a todas de forma personalizada torna-se tarefa quase impossível. Mas entre o silêncio e um e-mail automático há uma grande diferença. Algumas empresas fazem-no, porém, a grande maioria, parece esquecer-se de que, do outro lado, há pessoas que dedicaram tempo a pesquisar a sua empresa, a preparar uma candidatura e a demonstrar interesse.
Ao ignorar potenciais candidatos, podemos estar também a perder muitas oportunidades de construir ou manter relações que podem ser valiosas no presente ou no futuro. O candidato de hoje pode ser o Cliente de amanhã, o parceiro estratégico ou até mesmo aquele talento que, quando finalmente reconhecido por outra empresa, nunca mais olhará para aquela que o ignorou. O mercado de trabalho não se resume a ofertas e procuras imediatas; é também um ecossistema de reputações e perceções.
Os dados são claros: as empresas que comunicam melhor com os candidatos – mesmo com aqueles que não são selecionados – fortalecem a sua marca, aumentam a probabilidade de atrair talento qualificado e constroem uma cultura de respeito e transparência. Pequenos gestos fazem uma grande diferença, e a falta de resposta pode custar muito mais do que tempo: pode custar credibilidade, reputação e, acima de tudo, talento.
Em suma, o talento não é apenas um recurso a ser adquirido, mas um valor a ser reconhecido desde o primeiro contacto. Responder a uma candidatura pode parecer um detalhe menor, mas na realidade acredito que é um sinal claro da cultura da empresa que pretendemos ser.