Negros vão os dias! Ou diversão de Carnaval?

Está aí em força, que em tempos conturbados mais necessário se torna. Equilibra a vida, dá-lhe cor, que negros já são os dias…

Terá nascido para despedida da vida normalizada ou comum, porque viriam tempos de renúncia, de mortificação, de penitência.
Chegava a Quaresma!
Era um tempo soturno, as rádios silenciavam as músicas, calavam-se os aleluias, banidas as cores garridas, proibidas as euforias. Dias de jejum ou abstinência, uma autêntica caminhada no deserto muito sofrida, em flagelação por maus pensamentos, desejos e ações. Jornada de santificação pelo sofrimento.Antes de entrar na purificação das almas, chega a loucura, a descompressão carnavalesca.

Cá, como em toda a parte, solta-se a criatividade, a utopia, revelam-se os sonhos ou devaneios, dá-se corpo ao faz-de-conta, incorporam-se personagens e atitudes, as ruas são rios de gente que passa e que vê. É proibido estar sério ou sóbrio, é forçoso entrar na onda.
O comércio enche as prateleiras de sugestões, que já não há tempo para a criação própria.
Cá, como em toda a parte, dá-se voz ao Carnaval.

As escolas, até as creches, organizam desfiles, a que os pais aderem com empenho. No fundo, está disfarçadamente presente a competição, mas a criançada vai feliz e contente e isso é que importa. A alegria é genuína, o convívio é autêntico, reis ou bombeiros, ou policiais, ou princesas, ou roqueiros por um dia, é Carnaval e ninguém leva a mal.

Andava eu pela capital da minha Ilha, quando um som de bombos e trompetes me tira da pausa que costumo sorver num banco dum recinto de meditação e prece.
Uns foliões contidos, que a idade já pesava, dão corpo ao Carnaval Solidário, onde muitos centros comunitários de cariz social estão unidos e reunidos para revelar o trabalho de meses em preparação, uma ocupação saudável, galhofeira, seguramente, de muitas horas.
As vestes garridas trazem-nos baralhos de cartas, joaninhas, aves, pintores, palhaços. Uns ensaiam passos de dança, outros (acho que deveria escrever outras, que a maioria são mulheres eheheh) seguem em ritmo incerto, mas isso que importa? Importa, sim, essa vontade participativa, essa descontração de exibir com garbo e galhardia a vitalidade que os motiva e move, mesmo que a idade vá alta. Gostei, sim senhor. Velhos são os trapos, diz a gíria.

OUTRAS PALHAÇADAS Foi constrangedor ver a arrogância, a petulância, a vaidade, a grosseria humilhante daquela dupla ensaiada, numa sala que chamam de oval, sobre um lutador solitário, a tentar obter algumas garantias de segurança e paz duradoura para o seu povo destroçado por um ditador mesquinho, frio, insolente.
Não pedia mais do que alguma compensação pela cedência das suas terras raras, que se traduziria, seguramente, em garantias, também no benefício dos pretensos negociadores, já que a pacificação lhes traria a certeza da aquisição bem sucedida, sem distúrbios de surpresas bélicas, garantias de paz e tranquilidade.
Mas o aprendiz de ditador, que se vai desmascarando, agora declaradamente aliado do agressor, com gestos amaneirados de soberba e insolência, expulsa um colega de posição, um presidente quanto ele, aviltando um País inteiro, ali representado.
Estou ainda arrepiado pelo silêncio cúmplice duma sala de imprensa, afinal cobardemente arregimentada…

E…POR CÁ? Brinca-se às ameaças de antecipadas, acena-se com censura ou confiança; quando se tem o telhado a arder, escarafuncha-se na casa dos outros, para desviar as atenções de si.

Como diz a canção:
«Quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão» …

E o mexilhão é o zé povo, até que…«Acordai, homens que dormis,
vinde no clamor das almas viris
arrancar a flor que dorme na raiz».

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