As máscaras do Carnaval

As festas do Carnaval não são para todos, mas infelizmente todos temos assistido a demasiadas máscaras e as suas consequências. Na política internacional, na semana passada aconteceram momentos que pensaríamos que só na ficção poderiam acontecer. Na nacional, infelizmente, mais do mesmo. Na regional, procura-se o mesmo que no resto do mundo, um novo período, uma nova etapa.

As pessoas sentem-se desesperadas por uma mudança, mas não sabem como a escolher, nem como participar nessa mudança. Nos momentos de desespero, em que as pessoas estão mais frágeis, é fácil qualquer personalidade forte vir e arrebatá-las num movimento que nem se apercebem do que estão a fazer. São inúmeros os exemplos da história em que grandes grupos foram convencidos por dominantes líderes a executarem profundas barbaridades. Ao estarmos a viver desde há vários anos uma repetição destes momentos, o que é que realmente queremos

Há quem descreva a história humana como movimentos de um pêndulo, que uns momentos vira para a direita e outros para a esquerda, mas hoje sinto que o movimento da história da humanidade é mais como o martelo de um ferreiro. Relaxa para cima respirando fundo e desce maximizando o impacto e moldando a peça em trabalho. Pelos eventos à nossa volta, parece-me que estamos a aproximarmo-nos de um novo impacto, de novos acontecimentos que vão transformar a nossa mente colectiva.

Nos últimos meses tenho ouvido várias pessoas falar da erosão política da região, mas sinto que essa erosão é de todo o ocidente. Estas flutuações populistas da última década, que aterrorizam alguns e deixam outros empolgados, na minha opinião são manifestações de uma insatisfação e necessidade de mudança que muitas pessoas sentem. O problema é que é fácil utilizar estes sentimentos como uma porta para o extremismo, porque boas mudanças precisam de tempo e organização, enquanto o extremismo promete resolver tudo rápido e ficar bom como “antes” ou como um conto de fadas.

Mudanças rápidas estão condenadas a correr mal e são apenas instrumentos para a criação de ditaduras. Na instabilidade dos acontecimentos, os maiores tubarões tomam conta do território e assumem a liderança. É rápido começar uma ditadura, mas desfazê-la demora imenso tempo. Porque a ditadura pode acabar na liderança, mas mantém-se na alma das pessoas.

Acabamos por ter uma sociedade dividida, entre os que querem a mudança e os que querem manter o estado atual, mas uma coisa é certa, não existe nem um “antigamente é que era bom”, nem uma solução simples para o futuro. Não se trata de votar num ou noutro, cada um vota em quem lhe faz sentido, mas é além do voto. Se precisamos de mudança, que ela aconteça de uma forma saudável, exigindo responsabilidades a quem toma as decisões erradas. Manifestamo-nos pelo custo do petróleo, pela habitação e pela reforma, mas não para a responsabilização de quem tomou decisões para amigos, nem para a simplificação da lei. Ou seja, sem mudarmos os alicerces em favor de todos, qualquer que seja a cor que domine, vai terminar no mesmo, no mesmo comportamento de amigos. Se um caso é demasiado complexo para terminar no prazo previsto, não pode ser arquivado por questões de tempo. Precisamos de responsabilizar governantes, tal como com as suas leis, eles nos responsabilizam.

Se vivemos em democracia, porquê que temos um líder e não um conselho de liderança? Cada um eleito por si e não numa “lista”? As listas são feitas por amigos e para casamentos. Condenadas a facilitar.

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