Discriminação de… grávidas?!

Todos sabemos que o corpo feminino sempre foi alvo de avaliações e julgamentos constantes. Mas a partir do momento em que desponta uma barriga de gestante, o mundo sente-se à vontade para fazer todo o tipo de comentário, quer positivo ou negativo.

Desde a minha primeira gravidez que oiço as coisas mais parvas que alguma vez pensei ouvir… “estás a comer pouco, devias comer por dois”; “estás a comer muito, cuidado que depois não consegues perder peso”; “está com uma barriga tão grande, são gémeos?”; “com essa azia toda, vai nascer cabeludo(a)”; “não tomes epidural, deixa a mãe natureza seguir o seu curso”.

Quando se trata da segunda, da terceira ou até da quarta gravidez, o discurso muda para: “mas vais ter esse filho? tens a certeza? és louca?!”

Enfim… já perdi a conta da quantidade de coisas absurdas que já ouvi durante fase. Para além destes comentários, surgem ainda aquelas partilhas de histórias, tristes, que adoram contar, desde partos complicados ou problemas de saúde que o bebé teve de enfrentar.

O curioso é que este tipo de discurso, na sua maioria, vem de desconhecidas que encontrámos no nosso dia a dia e que, por algum motivo, sentem um à-vontade tão grande para dizer o primeiro disparate a uma grávida que não conhecem de parte alguma!

Confesso que uma das coisas que mais me incomoda é quando vêm tocar na barriga, sem qualquer constrangimento, invadindo a privacidade e o nosso espaço!

Todo o tipo de comentários, críticas e conselhos é feito sem ser solicitado. Na maioria das vezes, não reajo de nenhuma forma específica, limito-me apenas a sorrir e a agradecer de alguma maneira. Sei que, na maioria das vezes, não é feito com qualquer tipo de maldade. Mas e se fossem comentários como “que bom te ver com saúde”, ou “que traga muita alegria” ou simplesmente “é a melhor coisa do mundo”, não seria bem melhor? Há diversas formas de ser simpático sem ser invasivo, de comentar sem gerar sentimentos desagradáveis e complexos.

Para além deste tipo de discurso, existe ainda a discriminação das grávidas – principalmente vindo de mulheres – e que nunca é abordado! Posso dar vários exemplos, mas irei indicar três.

Primeiramente o atendimento prioritário. Todos sabemos que se estende a pessoas com deficiência ou incapacidade, a pessoas idosas, grávidas, ou pessoas acompanhadas de crianças de colo. É inacreditável a quantidade de funcionárias (sim, mulheres), que trabalham no atendimento ao público, em específico nos supermercados e em lojas e não dão a prioridade às grávidas, olhando com um ar de superioridade para as mesmas.

Outro exemplo são os transportes públicos. Como sabemos, estes transportes têm sempre uns lugares destinados para pessoas grávidas, com bebé de colo ou deficiência. No outro dia, qual o meu espanto quando vejo um grupo de adolescentes (mais uma vez, mulheres) com as suas malas Bimba Y Lola, nos respetivos espaços, tendo grávidas de pé. Inacreditável.

Um outro exemplo são aquelas médicas e enfermeiras dos hospitais públicos (mais uma vez mulheres) que ignoram as dores de contração que as grávidas estão a sentir pela primeira vez e dizem algo do tipo “aquilo que você está a sentir, todas já sentimos. Tem de aguentar.”

Todo este tipo de situações que enumerei só mostra a falta de sororidade, de solidariedade e de empatia que existe entre mulheres. Como é que é possível este tipo de situação ser visível e ninguém fazer nada??!! “Para quê falar? Será só para arranjar confusão. Ignora!” NÃO CONCORDO. Este tipo de situações são desumanas, graves e devem ser SEMPRE denunciadas!

Alexandra Nepomuceno escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.

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