Pearl Harbor

Ao contrário do que o nome indicava e as crenças nativas profetizavam, Pearl Harbor não serviu apenas para cultivar pérolas e ostras. O seu nome ficou conhecido pela influência que teve na Guerra de 1939-1945.

Trump devia recordar Roosevelt. Até ao final de 1941, quando a Europa estava em guerra, Roosevelt teve receio de optar pelos dois lados beligerantes. Manteve uma neutralidade receosa apesar dos apelos de Churchill e De Gaule. Considerava o assunto longe de casa e o seu foco era o interesse dos Americanos e do seu território. Pearl Harbor mundializou a segunda guerra e despertou em Roosevelt a consciência e a necessidade de que o Mundo Ocidental era um só. Pearl Harbor não foi um atrevimento nem um ato louco japonês, foi a consciência da necessidade de que para derrubar os valores ocidentais, havia que debilitar os EUA. Ao toque das armas, o Presidente americano percebeu que a sua legitima defesa era também europeia, como também defender a europa era proteger a sua casa.

Com o fim da Guerra, as potências aliadas obrigaram a Alemanha a desmilitarizar-se e a própria constituição alemã tinha enormes restrições ao investimento na defesa (regras que foram sendo atenuadas a partir da intervenção no Kosovo).

Essas duas circunstâncias e o crescimento do domínio soviético na Europa justificaram em abril de 1949 a assinatura do Tratado do Atlântico Norte. A NATO constitui a verdadeira fronteira de defesa da democracia e dos valores ocidentais. Deu-nos a paz neste nosso continente durante 70 anos e travou ímpetos soviéticos.

A Aliança não foi a demissão dos países da Europa na necessidade de se defender! A NATO não foi um colchão americano onde durante décadas nos deitamos! Representou a prosperidade do Mundo ocidental e dos seus valores e a resposta adequada e dissuasora para os inimigos da democracia ocidental.

A plutocracia que domina hoje os EUA parece convicta de que não há um problema atlântico de defesa. Fascinados pelo Mundo à volta do Pacifico e preocupados com a concorrência asiática, os novos poderes americanos, parecem quererem abandonar a Europa ao seu próprio destino, desvalorizando a invasão à Ucrânia e a ameaça russa.

Pearl Harbour suscitou a união de esforços e a solidariedade de nações contra os invasores. Tornou efetiva a paz e o desenvolvimento económico ajudado pelo Plano Marshall. Foi o click que deu azo a um novo Mundo de que todos felizmente podemos usufruir.

A eleição de Trump é o reverso disso. É regressar à divisão do Ocidente em proveito de interesses económicos legítimos, mas que não podem ser absolutos. O anúncio deste caminho pela potência americana desafia os povos europeus perplexos pelo abandono e pela traição. Esta não é a América de Roosevelt, de Kennedy ou de Reagan. Esta é uma América que esqueceu Pearl Harbor.

Recentemente em Riade nasceu um novo Mundo, mais exigente, mais difícil e especialmente onde só poderemos contar connosco próprios. Sem o parceiro americano, a União Europeia Ocidental caminha para ressurreição da Comunidade Europeia de Defesa. O tempo dirá se a opção trumpista trará a necessidade reler a história da década de 40 do século passado.

Ricardo Vieira escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas.

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