A liberdade é um direito consagrado na constituição. Mas nem todos conseguem usufruir dessa condição. Alguns não têm coragem de se exprimir livremente com receio das consequências, sejam elas quais forem. Outros parecem condicionados desde o momento em que acordam à altura em que se deitam. E há sempre quem escolha livremente o rótulo de seguidista.
De facto, o caminho da liberdade não é igual para todos. Depende de muita coisa, aliás. Por exemplo: não deveria ser necessário ser bravo para usufruir do sentimento de liberdade. Mas a dependência, as obrigações ou os compromissos, não raras vezes, revelam-se fortes limitações que só uma boa dose de bravura é capaz de desbloquear.
Há até quem diga que é melhor ficar calado do que se arrepender depois. Não devia ser assim? Claro que não. Mas há casos e casos. Pronto.
O bravo dos bravos nesta espécie de luta pela liberdade, no entanto, não é aquele que dinamita livremente tudo o que o rodeia.
Bravo pode ser apenas quem caminha em sentido contrário ao da maioria quando realmente importa. Quem debate na hora certa. E esses são facilmente identificáveis porque, normalmente, sabem ouvir e se fazer ouvir.
Sabem, inclusivamente, que podem estar calados porque sempre vão a tempo de falar depois se assim o entenderem. E também sabem, porque têm autoestima suficiente, que o silêncio não é sinónimo de burrice ou receio. Se bem que, para alguns, a boca fechada até seja um bom sinal, porque ajuda a alimentar a dúvida que se esvanece a partir do momento em que as cordas vocais começam a se mexer…
Em vésperas de novas eleições, temos exemplos mais do que suficientes de que a liberdade – principalmente a de expressão – não conhece limites.
A atual propaganda roça a libertinagem, com acusações e mais acusações a se confundirem com práticas de discriminação e maledicência que têm apenas o propósito de hostilizar os adversários. Vale tudo na corrida ao voto. E parece mais rentável capitalizar com o tropeção alheio do que com o acerto próprio. Dá menos maçada.
Interessa, porém, perceber o que farão os portadores da confiança dos eleitores. Se voltarão a promover a instabilidade política que paralisa o setor público e prejudica o privado. Ou seja, mais do que os compromissos assumidos em período de campanha, importa compreender se serão capazes de conviver democraticamente com um governo minoritário. Ou se voltaremos, uma e outra vez, a derramar milhares de euros em campanhas e eleições antecipadas, ao mesmo tempo que impedimos atualizações e apoios financeiros a empresas, trabalhadores e instituições.
A liberdade democrática é uma conquista inaliável. O que fazem os vencedores após os resultados nas urnas, isso é outra conversa que merece acompanhamento sério e responsável dos eleitores.
Não votar é também uma escolha? É.
E o desencanto de quem não vota sobre as políticas adotadas é para ser levado a sério? Claro que não.