A remar contra a maré

Os sinais parecem antever mudanças políticas. Nunca a Madeira mostrou estar tão perto de ser governada pela esquerda. Ou por uma coligação alargada, liderada pela esquerda. O que não augura nada de bom. Não porque a esquerda, ou as pessoas que aí militam, sejam intrinsecamente malévolas, mas porque há ideias que na prática nunca dão certo. As experiências autárquicas são prova dessa inoperância socialista. Seria como remar contra a maré do tempo político que se vive no País, na Europa e no Mundo. É em tempo da inevitável falência das políticas socializantes, da utopia da igualdade, liberdade e fraternidade, bem como do descrédito do ideário fraturante e radical da extrema esquerda, que a direita madeirense parece definhar. O que mostra um antagonismo curioso. A Madeira parece andar sempre de passo trocado com o resto do mundo.

No total, os partidos à direita do PS poderão não alcançar uma maioria parlamentar. E há partidos à direita que, com as devidas contrapartidas pessoais, poderão viabilizar uma alternativa da esquerda no poder regional. Não seria coisa inédita no mundo da política internacional. O retalhado manto partidário regional há muito que se vem adaptando a inusitadas experiências. A manter-se “com Albuquerque não”, qualquer solução pode surgir.

Tudo isto provocado pelo desgaste e algum desnorte do PSD. A atual direção do partido tem sido um sumidouro de votos, desde que anunciou a famosa renovação. Cada eleição menos votos. Há a natural erosão de décadas no poder, mas há também erros de palmatória. Não tanto na governação, mas sim na liderança do partido.

Curioso é que esses votos, que se somem das fileiras social-democratas, parece que desta vez não vão engrossar suficientemente os outros partidos da direita, garantindo que a esquerda fique impossibilitada de governar. Muitos vão aumentar a abstenção e alguns, de olhos fechados, vão parar aos partidos da esquerda. Se concordarmos que o JPP saiu do socialismo, mas que o socialismo nunca saiu do JPP. Assim sendo, mesmo que o PSD saia vencedor das eleições, ao contrário do que afirmam os seus dirigentes, poderá não governar. Por não ter apoio à sua direita ou até porque a direita pode não obter a maioria dos votos no parlamento.

Há razões para que o eleitorado, cansado do PSD, possa não querer entregar o seu voto aos outros partidos da direita. Ao CDS porque já se provou que são os maiores caçadores de tachos que alguma vez a Madeira conheceu. Sabendo-se que têm sempre duas portas. O que não escondem. Uma aberta à direita e outra pronta para a esquerda. Ao Chega também não, pelo descrédito das suas políticas e dos seus dirigentes. O populismo do JPP é o melhor travão para o crescimento do Chega regional. Então, porque não uma corrida a favor da IL? Nada disso. A Madeira não tem dimensão para acolher o liberalismo. A economia privada não garante um distanciamento do cidadão para com o Estado. Depois, a sociedade madeirense está habituada na mão estendida ao Governo. Subsídio para isto, apoio para aquilo. Uma ajudinha aqui, um empurrão acolá. O PSD, nestas décadas, dizendo-se de centro-direita, viciou os madeirenses na sombra da governação. Possivelmente foi uma fatalidade. Uma Região insular, periférica, sem recursos naturais de grande monta, vive de mão estendida para o exterior, o País, a Europa, e, da mesma forma, mantem os seus cidadãos de mão estendida no interior. É assim. Poderia ser diferente? Dificilmente.

Emanuel Gomes escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.

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