O advogado ambientalista norte-americano Robert F. Kennedy Jr., crítico da saúde pública, superou hoje o primeiro obstáculo para se tornar secretário da Saúde dos Estados Unidos, ao ser nomeado pela comissão de finanças do Senado para votação em plenário.
Os republicanos votaram em bloco para fazer avançar a sua nomeação para o cargo de responsável máximo da Saúde no país, ao passo que os democratas se opuseram.
A nomeação de Robert F. Kennedy Jr. será agora submetida a uma votação no Senado, apesar das preocupações sobre o que tem feito para semear dúvidas quanto à segurança das vacinas e o seu potencial para lucrar com processos judiciais contra laboratórios fabricantes de medicamentos.
Para obter o controlo da Agência de Saúde e Serviços Humanos norte-americana, que gere 1,7 biliões de dólares (1,63 biliões de euros), Kennedy precisará do apoio de todos os republicanos menos três, se os democratas se lhe opuserem em bloco, como se prevê.
O senador republicano Bill Cassidy, do Estado de Louisiana – que também é médico e faz parte da comissão de finanças -, votou hoje a favor da confirmação de Kennedy, apesar de na semana passada, durante as audiências do candidato, lhe ter repetidamente implorado, em vão, que rejeitasse uma teoria não-comprovada de que as vacinas causam autismo e de, no final, ter afirmado estar a “debater-se” com a sua nomeação.
“O seu passado, de minar a confiança nas vacinas com argumentos infundados ou enganadores, preocupa-me”, disse Cassidy a Kennedy.
Os senadores republicanos Susan Collins, do Maine, Lisa Murkowski, do Alasca, e Mitch McConnell, do Kentucky, também são vistos como potenciais votos negativos, porque votaram contra o secretário da Defesa proposto pelo Presidente, Donald Trump, e expressaram preocupação com o discurso antivacinas de Kennedy.
Numa entrevista ao programa “60 Minutes”, da estação televisiva CBS, que foi transmitida no domingo, Mitch McConnell escusou-se a dizer como votará na nomeação de Kennedy, mas reiterou que “as vacinas são extremamente importantes”.
Os democratas, entretanto, continuam a alertar para o potencial de Kennedy para beneficiar financeiramente ao proceder a uma alteração das orientações relativas às vacinas ou ao enfraquecer as proteções de ações judiciais federais contra fabricantes de vacinas, se for confirmado como secretário da Saúde.
“Parece possível que muitos tipos diferentes de decisões e comunicações relacionadas com as vacinas – que teria o poder de tomar e influenciar como secretário [da Saúde] – possam resultar numa compensação financeira significativa para a sua família”, escreveram os senadores democratas Elizabeth Warren, de Massachusetts, e Ron Wyden, do Oregon, numa carta enviada no fim de semana a Kennedy.
Kennedy disse que dará ao seu filho todas as comissões por referência em processos judiciais contra fabricantes de vacinas, incluindo os honorários que recebe por angariar clientes para um processo contra o laboratório farmacêutico Merck.
À comissão de finanças do Senado, Kennedy indicou que encaminhou centenas de clientes para um escritório de advogados que está a processar a Merck por causa da Gardasil, a vacina contra o papilomavírus humano que previne o cancro do colo do útero – um negócio que o fez ganhar 2,5 milhões de dólares (2,4 milhões de euros) nos últimos três anos.
Como secretário da Saúde, Kennedy iria supervisionar as recomendações de vacinas e as campanhas de saúde pública para a agência com um orçamento de 1,7 biliões de dólares (1,63 biliões de euros), que é também responsável pelas inspeções alimentares e hospitalares, pelo fornecimento de seguros de saúde a milhões de cidadãos norte-americanos e pela investigação de doenças mortais.
Robert Francis Kennedy Junior, de 71 anos, é sobrinho do Presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy (1961-1963) e filho de Robert F. Kennedy (procurador-geral dos Estados Unidos entre 1961 e 1964 e senador por Nova Iorque de 1965 até ao seu assassínio, em 1968).
Um democrata de longa data, candidatou-se às eleições presidenciais de 2024 primeiro como democrata e, depois, como independente e acabou por retirar-se da corrida e apoiar Trump, em troca de um lugar influente no seu Governo republicano.
Juntos, criaram uma nova e invulgar aliança composta por conservadores que se opõem às vacinas e liberais que querem ver o Governo promover alimentos mais saudáveis – a esse movimento, Trump e Kennedy deram o nome de “Make America Healthy Again” (“Tornar a América Saudável de Novo”).