Remunerar

O Global Risks Report é a publicação de referência do Fórum Económico Mundial sobre riscos mundiais. Ocorre por antecipação à realização do encontro de Davos. Este evento, que reúne líderes de todo o mundo, decorreu nos passados dias 20 a 24 de janeiro, sob o lema: “Colaboração para a Era Inteligente”. Na 20.ª edição, deste Relatório, são assinalados riscos ligados, nomeadamente: a crises sociais, como a polarização da sociedade e a falta de oportunidades económicas e de desemprego, mas também riscos tecnológicos como, por exemplo, a desinformação.

Sobre Portugal, aponta o Inquérito associado ao referido Global Risk Report 2025, que a inflação deixou de ser considerada uma ameaça para os negócios e nem o abrandamento e possível recessão das economias é o que mais preocupa os empresários nacionais. Entre nós, o maior receio prende-se com a mão-de-obra -no caso, a falta dela-, e as condições de trabalho. Na verdade, e apesar da taxa de desemprego permanecer baixa (quase metade da registada v.g. em Espanha), o desemprego jovem em Portugal é o quarto maior da União Europeia, segundo o Eurostat.

Estes são os factos!

Salários baixos, precariedade dos vínculos laborais, é esta a realidade que os jovens trabalhadores portugueses sentem com acuidade. Particularmente, no caso dos salários, quando os mesmos têm, para ser compreendidos, não o seu valor nominal, mas real, ponderado o impacto, que é sentido, face ao poder de compra atualmente muito condicionado por uma inflação crescente. E, isto, traduz-se em que os salários dos jovens trabalhadores portugueses, em termos médios são, de facto, dos mais baixos na europa.

Afigura-se, assim, todas estas preocupações, como as que os empresários portugueses refletem já que acabam determinando a denominada “fuga dos talentos”, que o Inquérito apresenta.

Que fazer, então, quando não se quer perder os melhores? Por mais alternativas e discursos, faz-se remunerando melhor quem têm competências. Está na “ordem do dia” incrementar o salário mínimo e afirmar que o salário médio deve acompanhar a evolução daquele, de forma expressa e descompactada. Mas, a verdade, é que o discurso não “cola” à realidade. Pior, começamos a encarar tudo aquilo que é, hoje, um facto, mas que começa a ser uma inevitabilidade: a saída dos nossos melhores. A tal geração mais qualificada. E nada fazer.

Como já aduzimos aqui, anteriormente, pagar a remuneração do conhecimento é, portanto, fundamental. A remuneração do “posto” que o trabalhador ocupa deve atender e valorizar reconhecidamente em valor: o tempo que é dedicado às funções que são desempenhadas, a competência demonstrada, o trabalho, a qualificação que é necessária e muitas das vezes o esforço de upskill que foi/está sendo usado na autovalorização, além da responsabilidade envolvida.

Os empresários portugueses têm de perceber, pois, que têm de investir em valor acrescentado por posto de trabalho em lugar do trabalho como custo.

Nunca é por demais renovar que o grande desafio que se coloca a Portugal é do crescimento, onde a competitividade acaba desempenhando um papel crucial. A possibilidade de Portugal crescer acima de 2% (Banco Portugal avança com 2,1%) não deve fazer perder o foco. O crescimento será, no entanto, ainda, muito orgânico e à custa de um setor: o Turismo. Ou seja, não estamos a melhorar a estrutura produtiva portuguesa, e logo, nem sequer a mudar outro item muito importante: a “retenção de talentos”.

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *