Haverá esperança?

Abrem-se os jornais e a realidade parece ter ensandecido. A leste, um doido poderoso com ambições imperialistas, que não respeita soberanias, quer instaurar uma nova ordem mundial, enquanto os vizinhos emergentes manhosamente fingem não ser nada com eles e aplaudem. A oeste, outro doido poderoso quer tomar pela força países e territórios há muito reconhecidos e consolidados e em cuja agenda, entre outras pérolas, está a fragmentação de nações pela desocupação do seu território natural e a deportação indigna e inumana de imigrantes, como se fossem criminosos de alta perigosidade. Mas serão os tipos clinicamente doidos como se parece afigurar ou têm antes, atrás de si, intenções inominadas de dominação política e económica para a satisfação dos interesses alarves de um certo capitalismo selvagem e as suas oligarquias, que encaram a humanidade como uma massa numérica amorfa, meros objectos para exploração e utilização desregrada? Mais do que loucura, está em causa a fria e infinita vocação predadora do Homem lobo do Homem. Só isso explica a fome no mundo e a patente e cínica indiferença com que é encarada.

Parece claro que o Homem não aprende nada verdadeiramente com a História e que é preciso haver guerras e os seus resultados catastróficos, para que num qualquer pós-guerra, que deveria ser desnecessário se não houvesse guerra, se possa pensar e agir com bom senso e retomar a normalidade humanizadora.

Nos últimos 80 anos, a Europa conheceu um período de bem-estar, prosperidade e paz que agora parece estar de novo em perigo com o surgimento dos nacionalismos exacerbados, das ideologias de ódio, dos populismos rançosos, acicatados pelos tais doidos a leste e a Oeste. E novamente o poder das armas e do dinheiro fará da Europa ensanduichada uma zona de instabilidade e crise. Já está aí de novo a corrida às armas e aos orçamentos de defesa.

Dentro de portas, assiste-se a fenómenos impensáveis e risíveis, com um representante do povo suspeito de crimes de furto, tal reles pilha galinhas, como se já não bastassem os requintes das patifarias do tráfico de influências, do abuso de poder e da corrupção em que se envolvem alguns homens públicos. Um claro sintoma do abuso da democracia e da manipulação do eleitorado que permite recrutar cega e levianamente qualquer patife e fazer dele um homem com responsabilidades políticas, mesmo que a noção de ética não vá além de um prato de lentilhas. Ademais, os habituais jogos de comadres desavindas do arco da governação que se acusam mútua e oportunisticamente disto e daquilo de olho nas cadeiras do poder e dos cargos de Estado e do gamelão do orçamento, os tais bancos alimentares de que falava o saudoso Prof. Medina Carreira, pouco importando o verdadeiro interesse público que cosmeticamente se fartam de apregoar. E parece não haver solução fiável e duradoura à vista. É esta mesma gente que foi aparatosamente por o Eça ao Panteão, num provincianismo burlesco que não se deu conta de que a sua obra visou toda a ridicularia e a canalhice dos homens públicos no Portugal de oitocentos e que se há-de ter rido no além a bandeiras despregadas com aquela farsante e ridícula encenação, num país que não parece ter emenda ou solução. A leitura de um excerto de “As Farpas”, na ocasião, foi deveras dolorosa por tão tristemente actual. Entretanto vai-se esgrimindo esperanças fundadas em sebastianismos fardados. Seriedade, probidade e humanismo são requisitos que fazem falta naqueles que se propõem gerir a coisa pública, quer a mundial quer a de casa, o ânimo que norteie a acção para uma vida justa e condigna de todos os homens, independentemente da sua pele, etnia ou condição social, num chão que dá frutos suficientes para todos.

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