O do “Vou-te Bater”

Em novembro de 2017, incentivada por Duarte Gouveia (o do Toastmaster) fui oradora no evento que antecedia a Convenção Fundadora de um Partido Liberal em Portugal. Aí quis ser membro.

Pouco antes da convenção, troquei impressões com o primeiro (e único) membro fundador madeirense: Nuno Morna. O do “Vou-te Bater”. Embora desconhecidos, tirámos uma foto juntos, como madeirenses que éramos, para a posteridade. Achei-o logo um tipo porreiro.

No início, tive receio de me envolver ativamente no partido. O medo de represálias e de perder oportunidades de emprego falava mais alto. Com um nó no estômago, muitas vezes dizia: “Não convém aparecer”. A vida deu voltas e em 2021 estava pronta para as Autárquicas.

Nuno Morna, o do “Vou-te Bater”, ficou feliz por me ver de volta, sem nunca julgar as hesitações anteriores. A ligação foi imediata. Com boa disposição, sem dinheiro e sem perder o foco, fez-se a campanha em Santa Cruz.

Dele já tinha ouvido coisas como: “Não sei porquê, mas não gosto do gajo”; “É arrogante”; “Acha que pode dizer tudo o que lhe apetece”; “Tem a mania”. Nenhuma dessas perceções fez sentido para mim. Sim, ele fala “de rijo”. Sim, diz palavrões. Sim, é teimoso e, às vezes, parece que vai levar tudo à frente. Chegaram a perguntar: “Tu consegues aturar o Nuno Morna?”. Respondi: “Credo. Porquê? Tu já trabalhaste com ele?”. A resposta foi: “Não, mas parece arrogante”. Parece? Parecer não é argumento. Tenho pena de as pessoas não estarem dispostas a ir para lá do que se vê.

O Nuno nunca se esconde. Encara as situações, de frente. Quando tem opinião formada, é direto e incisivo, e não está preocupado em agradar. Sim, sabe que poderia ganhar mais apoio se “acalmasse os ânimos”, e como fazer isso quando se entrega totalmente ao que faz? Ele está sempre atualizado, nunca preso ao “sempre fizemos assim”. Não é Gandhi, nem Sadhguru, nem tenta parecer.

O Morna não mantém relações por interesse. Ele conversa com qualquer pessoa, não para manipular, mas porque gosta. É das pessoas mais justas que conheço, com um coração enorme. Às vezes até irrita. Por detrás do humor inteligente que todos reconhecem, há alguém com uma capacidade de trabalho inacreditável. Quem quiser apoiar, apoia. Quem não quiser, deixa ir sem ressentimentos. Aceita correções e agradece-as. Pede desculpa a qualquer um.

Também tem limites. Quando a crítica constante vem de dissimulados que nada fazem, cansa-se. Ainda assim, continua a acreditar no melhor das pessoas.

De 2022 até hoje, vivemos os momentos mais intensos das nossas vidas. Sem experiência em “manha política”, fizemos três campanhas e começámos do zero um trabalho parlamentar numa fase atípica da democracia regional. Posso dizer que “comemos o pão que o diabo amassou” e que cativámos muitos com a nossa capacidade de digestão.

O tal “arrogante” sempre valorizou a opinião da sua equipa. Muitas vezes discordámos, brigámos feio e houve dias de frustração, mas o consenso era garantido, pois o respeito e a admiração prevaleciam.

Perder o Nuno Morna, o do “vou-te bater” como deputado é resultado de uma sociedade hipócrita, de cordialidade artificial, que prefere palavras bonitas à verdade e à resolução dos problemas.

Sinto-me privilegiada por ter acompanhado o trabalho exemplar de Nuno Morna, o político, não político, que fez a Madeira um pouco mais liberal e que marcou a democracia regional. O que fez e como o fez, mais ninguém fará.

Seja onde for, continuará a bater!

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *