Na política, tal como no percurso da vida, há momentos em que precisamos de fazer escolhas, e essas escolhas trazem consequências para o futuro. Isto vem a propósito da situação política que vivemos na Região, que, recentemente, tem sido marcada por acontecimentos relevantes. Este ano promete.
Com a crise política instalada, o Presidente da República dissolveu a Assembleia e agendou eleições regionais para 23 de março. Este desfecho, já esperado, exige que todos os madeirenses e porto-santenses façam uma reflexão profunda sobre o que desejam para o futuro.
Uma coisa é certa: com o “hábito” de irmos frequentemente às urnas, estamos mais conscientes do impacto das eleições no nosso quotidiano. Esta consciência reforça a importância de fazer uma escolha ponderada nas próximas eleições, que definirá o novo ciclo político da Região.
Esse ciclo dependerá muito do trabalho desenvolvido pelos partidos, sobretudo pelos dois principais, PS e PSD, que disputam de forma clara a governação regional. Honestamente, não consigo incluir o JPP, que nunca conseguiu sair do campo populista, apresenta poucas propostas concretas para a governação e limita-se a explorar temas fraturantes para obter dividendos políticos, à semelhança do Chega.
Nos últimos dias, temos assistido a um debate interno tanto no PS quanto no PSD, que deve ser encarado com naturalidade, sem dar demasiada relevância aos “sound bites” que surgem. É normal haver disputas e discordâncias internas, o que não é normal é usar a comunicação social como palco preferencial para essas divergências.
Sinto-me à vontade para abordar este tema porque, no passado, também disputei órgãos internos do partido e sujeitei-me a votos. Fi-lo com respeito integral pelas regras democráticas, sem tentar atropelar estatutos para alcançar os meus objetivos. Essa postura dá-me a serenidade de saber que atuei corretamente, sem prejudicar ninguém ou o partido no exterior.
Coerente com esta postura, sempre discordei de eleições internas abertas a não militantes. Simplesmente, não faz sentido. Eleições internas são isso mesmo, internas. Ser membro de um partido não é pecado, antes pelo contrário, é um ato de coragem ao identificarmo-nos com determinados valores. Quem quer influenciar a ação política de um partido deve fazê-lo internamente, participando nos debates e decisões. Isto aplica-se a praticamente todas as instituições.
Por isso, concordo com Paulo Cafôfo ao convocar eleições e congresso para clarificar a liderança. Não era obrigado, mas teve a coragem de o fazer, encerrando o assunto e focando-se no essencial, as eleições regionais. Este gesto não só reforça a legitimidade do líder, mas também cria espaço para que o partido se concentre nos desafios políticos e eleitorais que tem pela frente. Aberto o processo, cabe a quem está disposto a sair da zona de conforto apresentar candidatura, é assim que funciona a democracia interna.
O PSD, por outro lado, seguiu uma estratégia distinta, enclausurando-se na sua atual liderança, não validando cerca de 300 assinaturas, procurando, na secretaria, silenciar o opositor interno. Esta escolha, a meu ver, será prejudicial aos objetivos eleitorais do PSD, agravando ainda mais a já frágil posição de Miguel Albuquerque, que arrisca obter um resultado eleitoral ainda pior do que o esperado.
O dia 23 de março promete ser muito intenso, com tudo em aberto e uma forte possibilidade de se tornar uma data histórica para a política regional. Será um momento decisivo, não apenas para os partidos, mas também para os eleitores, que terão nas suas mãos a responsabilidade de escolher o futuro que desejam para a Madeira e o Porto Santo.