Acabaram as tréguas da Festa! Ao mesmo tempo que se recolhem pinheiros, espiguilhas, gambiarras e imagens rachadas da lapinha, guardam-se também os sorrisos e as saudações de esperança.
Acabaram-se as tréguas e voltou o ambiente pesado com que fechámos 2024. Regressámos ao velho normal com um ambiente tenso, feito de testas franzidas em rostos sisudos.
Esta atmosfera pesada cobre diferentes faixas da sociedade madeirense.
Com algumas exceções, o nevoeiro cai sobre nós com a mesma intensidade com que cobre a Choupana em dia de jogo grande. E é ver esse semblante cerrado que mostram adeptos da equipa da casa e visitantes, quase tão carrancudos como os maritimistas que não se lembram de uma crise assim.
Se formos para a política, o retrato ainda é pior. À medida que aumenta o clima de crispação, diminui o sentido da tolerância. Mas com uma inovação: antes, a pré-campanha era aproveitada para duras guerras entre partidos. Agora, é um terreno fértil em guerrilhas entre militantes do mesmo partido.
O maior motivo de discórdia no PSD, não é a oposição. São as acusações entre militantes do PSD.
A razão para a nova guerra no PS, não é a crise do poder. São as afirmações entre militantes do PS.
E o que levou à separação dentro do JPP, não é a dificuldade de crescer. São as ambições de militantes do JPP.
Esta estranha forma de combate entre iguais não se fica pelos três maiores. Ela desce até aos mais pequenos dos pequenos de tal forma que seria fastidioso enumerar todas as capelas que dividem cada paróquia.
Mas há tantos outros sinais de intolerância e de dificuldades que alimentam coros de queixas.
São os professores que se sentem sem tempo nem dinheiro para progredir nos estudos.
São relatos de que a PSP continua a trabalhar sem condições mínimas.
São os enfermeiros com serviço a mais e saúde a menos.
Os hospitais cheios. Os centros de saúde a abarrotar e as prateleiras de medicamentos com ruturas de stock que fazem soar alarmes. E o drama das famílias que não conseguem cuidar dos seus doentes, sobretudo os velhos que acabam despejados de casa para morar no hospital.
E há também esta sensação estranha de que aumenta o fosso entre pobres e ricos. Que há cada vez mais pobres a quem os governos oferecem este mundo e o outro à conta dos novos pobres que eram da classe média e caíram num elevador social que desce, desce e desce tanto que os levará à pobreza.
Mas, como em tudo na vida, há o outro lado.
O outro lado é feito de supermercados a abarrotar como se estivéssemos a ouvir as sirenes de guerra minutos antes de um ataque aéreo.
São os restaurantes com fila à porta para o segundo turno do almoço.
Os hotéis cheios de turistas.
As casas velhas transformadas em novos Alojamentos Locais.
Os parques de estacionamento sobrelotados.
Os miradouros à pinha.
Os autocarros com gente como nunca.
As estradas cheias de carros de diferentes modelos da marca rent-a-car.
O outro lado parece promissor. Todo esse frenesim há de ser bom para a economia e isso deve ser valorizado como um bom indicador para famílias e empresas.
Mas, só por si, não é sinal de progresso para a maioria. Será antes o regresso à vida como ela era antes das tréguas da Festa.