Um ano de fortes provações e de muita esperança

Pensar na política local, em quem será o nosso candidato à câmara ou à junta de freguesia, se ganha a esquerda ou a direita, pouco parece importar, quando estamos perante um dilema maior de saber qual será o desfecho das eleições regionais que se avizinham. Será que vale a pena refletir nas declarações dos partidos da oposição à saída de Belém que juraram de pés juntos que não vão viabilizar um qualquer governo com Albuquerque que por sua vez faz finca-pé para ficar num lugar onde já poucos o apontam. Será que vale a pena perder tempo e energia a meditar sobre a estapafúrdia asseveração dos juntos e socialistas que murmuram, para inglês ouvir, que vão formar uma maioria para governar a Região, no pós-eleições.

Estes dias são tempo de renovada cogitação. Num impulso, vemo-nos a questionar como será este ano novo. Das pequenas coisas, pessoais e familiares, até o que se passa no sítio ou na cidade, na região, no país ou no mundo, tudo trespassa o nosso pensamento. E este é um ano de muitas provações. O mundo está em mudança acelerada como nunca dantes aconteceu. Sem procurarmos, somos inquietados e até sacudidos pelas notícias.

Será que vale a pena perder tempo, neste tempo inicial de reflexão, com questiúnculas menores quando o mundo à nossa volta parece ter ensandecido. Com guerras e atrocidades. Quando se começa a pôr em causa os valores que têm sido os pilares que sustentam as democracias liberais e o direito internacional. Será verdade que vem aí uma nova ordem mundial que ainda ninguém sabe muito bem como definir.

Valerá a pena perdermos tempo com minudências quando vivemos num país que elegeu um presidente da república, amado pelo povo e venerado pelos media, que passados dez anos de mandato apenas deixou beijos e afetos e a incómoda sensação da inutilidade funcional daquele cargo. Sem que sejamos capazes de perceber e rever a fraqueza das nossas convicções e perceções.

O que dizer dos nossos autarcas que se estafam na defesa dos coitadinhos do concelho quando se é inundado pelo clamor de indignação nacional porque a polícia fez uma rusga onde predominam emigrantes ilegais. Um clamor woke que muito contribui para uma reação contrária, engrossando a direita radical que a esquerda tanto gosta de alimentar porque sem ela já não consegue viver.

O que pensar deste nosso pequeno mundo quando se assiste incrédulo às declarações do agora eleito presidente dos Estado Unidos que quer anexar o Canadá e a Gronelândia, tomar conta do canal do Panamá e renomear os golfos e oceanos depois de já ter incentivado um assalto à sede do poder federal. O que recear quando o farol maior da liberdade e da democracia liberal se deixa comandar por um lunático aprendiz de Putin. Estamos perdidos…

Não. A História ensina-nos que o mundo dá muitas voltas, mas o caminho da humanidade, com curvas pelo meio, tem sido sempre em direção à racionalidade, à verdade, ao bem, à fraternidade, ao desenvolvimento civilizacional. Os modernos instrumentos de manipulação de massas são difíceis de combater. Dantes o povo não lia. Agora vê, ouve e lê o que não presta. Alimenta-se de notícias falsas ou distorcidas. Porém, o tempo da desinformação, da manipulação das redes sociais, não tem pernas para mais do que uma geração. Esperemos.

E a esperança vem aí. Não será a inteligência artificial, mas sim a inteligência das crianças que nascem agora que definirá o futuro no que resta deste século e duvido muito que queiram trilhar este caminho. Haja esperança.

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