Ainda não passou um ano e cá estamos, de novo, a viver uma crise política. Em janeiro de 2024 deveu-se a uma operação de carácter quase paramilitar, tão questionável na proporção de meios e mediatismo, quanto na solidez da suspeita, que resultou na absoluta desvalorização pelo Juiz de Instrução Criminal (JIC). Apenas para recordar a montanha que pariu o rato: 2 aviões militares, 80 carros de aluguer; 2 autocarros, quase 300 agentes, 2 juízes, 6 magistrados do Ministério Público e um despacho do JIC que diz o seguinte: “Não existem, nos autos, indícios, muito menos fortes indícios de que (…) o arguido (…) tenha incorrido na prática de um qualquer crime”.
Entretanto, fomos a eleições, foi dada posse a um governo, foi aprovado um orçamento. Os madeirenses pensaram, aliviados que, finalmente, íamos ter estabilidade, para prosseguir a senda de progresso e desenvolvimento económico. Apesar das dificuldades, obras públicas tão importantes de habitação social e o novo hospital, bem como outras, como as habitações a custos controlados, prosseguiram, voltávamos a bater recordes no número de dormidas e nos proventos provenientes do turismo e apresentávamos, genericamente, bons indicadores em todas as áreas de governação.
Vamos discutir o orçamento para 2025 e eis que as desVenturas desta vida levam o Chega a apresentar uma moção de censura, por dá-lá-aquela-palha. Julgavam os madeirenses que o bom senso imperaria e que partidos mainstream, com legítima ambição de poder, tradicionalmente responsáveis, não iriam compactuar com mais este foco de instabilidade. Mas vai que Cafofo dá a mão ao “amigo” André Ventura e, juntinhos, acordam a aprovação da moção que levou à queda do Governo. E, por isso, cá vamos nós outra vez para eleições. Em menos de um ano e meio, são já as terceiras eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira.
Fiz esta resenha, apenas para que percebamos a força das palavras de Remarque, que acima deixo, sobre a guerra nas trincheiras, adaptadas à política regional. Há um entrincheiramento dos diversos partidos políticos, com motivações exclusivamente oportunistas e populistas, que tem inviabilizado soluções de consenso que contribuam, de facto, para a melhoria da qualidade de vida dos madeirenses. Cada qual mete-se na sua cova. Cafofo luta pela sua sobrevivência, bem como pela da sua clique e é incapaz de qualquer atitude adulta e responsável. Chega ao ponto de se “coligar” ao Chega para fazer derrubar um governo e um presidente que o derrotaram nas urnas de forma categórica. Vale tudo, até achincalhar o nosso povo, com cartazes em Lisboa a gozar com o sotaque madeirense.
Com o JPP é impossível contar para qualquer solução que envolva consenso ou maturidade política. Continuam agarrados ao discurso populista que tanto furor faz nalguns mentideiros da nossa praça, acreditando que assim serão alternativa ao PS. O Chega, infelizmente, é telecomando a partir de Lisboa, sendo, talvez, o mais anti-autonomista partido da democracia portuguesa. Se lhe fosse dada oportunidade, não tenho a mínima dúvida de que uma das primeiras medidas de André Ventura seria acabar com essa chatice das autonomias.
Ora, perante insistentes ataques à estabilidade da política, da economia e da vida dos madeirenses, seria expectável que todos os militantes do PSD-M cerrassem fileiras – como sempre têm feito, mesmo quando há discordâncias internas – com vista à salvaguarda do bem maior: a defesa da nossa população, do nosso bem-estar e da nossa autonomia. Infelizmente, também no PSD-M alguns entenderam cavar fossos e entrincheiraram-se numa posição que obstaculiza o estabelecimento de compromissos. Em vez do diálogo apresentam a confrontação; em vez do acordo, propõem a desunião; em vez da unidade, contribuem para a polarização.
O momento é de crise e a Madeira e os madeirenses nunca estiveram tão cercados como agora. Seria importante sairmos das nossas trincheiras e dialogar francamente, com vista ao estabelecimento de compromissos. Porque é isso que a população pretende e é isso que a Madeira necessita. E quando alguém nos dá a mão, a atitude mais correta é sempre estender a nossa própria. A recusa de um gesto de boa vontade ou abertura pode fechar portas para o futuro de todos, promovendo o afastamento e dificultando a reconciliação. Em defesa do bem-maior, que é a Madeira, valeria a pena o compromisso. Ainda não é demasiado tarde. E os madeirenses estão atentos e saberão reconhecer quem esteve do lado da solução e quem esteve ao lado da oposição!