Quanto mundo cabe em ti?

Após quase sete meses em viagem pelo mundo sozinha, em que pisei cinco continentes, viajei por 15 países, 200 dias, 108 mil quilómetros, eis que chegou o momento de voltar a casa. A viagem com destino ao Funchal, apesar de uma das mais curtas que fiz nos últimos meses, foi a que me pareceu mais longa. Passei metade do tempo a rever fotos das Filipinas, da Indonésia, dos lugares por onde tinha passado. Os bons momentos, os melhores momentos e os desafios. Dei por mim a pensar: “como é que é possível que o tempo tenha voado tão rápido?”

Aterrar no Funchal foi agridoce. Por um lado entusiasmante, por estar prestes a ver a minha família e amigos, descansar sem ter de engendrar um plano para chegar de A a B, mas também a realização de que o meu sonho de fazer uma sabática e viajar pelo mundo acabou no momento em que as rodas do avião tocaram na pista do aeroporto da Madeira.

“Quanto mundo cabe em ti?”, perguntou-me uma das minhas melhores amigas quando regressei. Como se põe em palavras tudo o que foi vivido? Como começar a quantificar todo o mundo que vive agora na minha mente? Estava preparada para os chamados “pos-travel blues”, ou depressão pós-viagem ou férias. Com certeza, o leitor também já sentiu. Aquele sentimento menos bom de voltar à vida normal depois de uma merecida pausa.

Esta viagem foi mais do que uma simples viagem, foi o meu modo de vida! Depois de algum tempo, habituamo-nos à liberdade máxima e à ausência de responsabilidades sérias. Eu era a única pessoa que podia decidir onde queria estar, quando e com quem. Era eu que decidia onde dormir, que país ia visitar a seguir e o que ia fazer em tal cidade.

A transição de volta para uma “vida normal” não é suposto ser fácil, é uma mudança completa de estilo de vida e de mentalidade.

Quando regressei a casa, estava pronta para abraçar a tal tristeza após viagem que muita gente me falou. De facto, passei a totalidade do meu último voo em modo nostalgia total. Mas quando aterrei, a tristeza não me dominou como eu esperava.

Algo tinha mudado. A minha perspetiva tinha mudado. Em vez de estar triste por ter acabado, estou incrivelmente grata pela aventura em que estive e pelas pessoas que conheci. O que eu esperava que fossem lágrimas é muitas vezes substituído por sorrisos de saudade boa sempre que penso nos lugares por onde passei e as experiências que tive.

Não me interprete mal, ainda não consegui escapar completamente ao sentimento de nostalgia. Continua a vir em ondas. Estou sentada a ver televisão e penso que podia estar a comer Pho no Vietname ou a acampar no topo de uma montanha no Peru, mas já sei lidar melhor com esses pensamentos e emoções.

Em pleno mês de Agosto, muita gente está atualmente de férias. Quando voltar ao trabalho, lembre-se de que provavelmente não foram as últimas férias ou viagens que vai fazer. Comece a olhar em frente para o que vem a seguir e, entretanto, olhe para trás com gratidão para as memórias incríveis que criou! Eu estou a tentar fazer o mesmo.

Nós, enquanto indivíduos, somos o produto de todas as vivências que vamos acumulando pela vida, boas ou más. Portanto, à pergunta de quanto mundo cabe em mim, a resposta é muito. Tenho em mim todos os lugares por onde passei, um pouco de todas as pessoas que conheci, mas já olhando para o futuro, sei que há ainda espaço cá dentro para mais mundo.

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