O Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, exortou hoje a comunidade internacional para uma posição “clara e inequívoca” para proteger a minoria sérvia do Kosovo dos “atos unilaterais” de Pristina, que fomentam tensões entre as comunidades albanesa e sérvia locais.
“Os atos unilaterais de Pristina conduzem a escaladas desnecessárias e perigosas das tensões que podem comprometer a paz dificilmente alcançada em toda a região”, disse Vucic na rede social Instagram.
O Governo do Kosovo encerrou na segunda-feira nove sucursais dos Correios da Sérvia no norte kosovar, habitado por uma maioria de sérvios, uma medida que contraria os acordos alcançados no âmbito do diálogo, impulsionado por Bruxelas, sobre a normalização das relações entre a Sérvia e a sua antiga província do sul.
A Comissão Europeia (CE) pediu a Pristina para reconsiderar a sua decisão e procurar uma solução negociada, ao recordar que na perspetiva dos acordos sobre telecomunicações acordados em 2013 e do plano de ação impulsionado em 2018, as duas partes concordaram debater os serviços postais “numa fase posterior”.
O primeiro-ministro da Sérvia, Milos Vucevic, manifestou hoje “preocupação” pela situação dos sérvios do Kosovo e acusou a comunidade internacional de reagir de forma pouco consistente às medidas do executivo kosovar, liderado pelo nacionalista radical Albin Kurti, que têm reduzido os direitos da minoria sérvia do Kosovo.
“Estou insatisfeito com a reação da comunidade internacional porque considero que grande parte permite taticamente a Kurti fazer o que faz. Se assim não fosse, seria sancionado”, disse Vucevic, citado pela televisão pública RTS.
O chefe do Governo sérvio acusou Kurti de “pretender que os sérvios do Kosovo permaneçam nos enclaves como em reservas” e de sistemáticas provocações para suscitar uma reação de Belgrado até envolver a Sérvia numa guerra com a NATO, que mantém no Kosovo uma missão militar internacional (Kfor).
Os membros da minoria sérvia kosovar constituem atualmente entre 5% a 10% da população total do Kosovo, uma antiga província da Sérvia com maioria de população albanesa que em 2008 proclamou a independência unilateral, nunca reconhecida por Belgrado.
Os sérvios do Kosovo denunciam uma crescente discriminação face a um conjunto de medidas adotadas pelo Governo de Kurti, no poder desde 2021.
Segundo Belgrado, 15% dos membros da minoria sérvia abandonaram o Kosovo no espaço de um ano, atualmente com uma população total de 1,7 milhões.
As tensões entre a Sérvia e o Kosovo permanecem muito elevadas 15 anos após o final da guerra, na sequência de uma intervenção militar da NATO contra Belgrado em 1999, suscitando receios sobre o reacender do conflito e a abertura de uma nova frente de desestabilização na Europa enquanto prossegue a guerra na Ucrânia.
A normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo, mediadas pela União Europeia (UE), permanece num impasse, em particular após os confrontos em setembro passado entre uma milícia sérvia e a polícia kosovar que provocou quatro mortos e agravou as tensões na região.
Na sequência deste incidente, a Kfor, a força multinacional da NATO no Kosovo e presente no território desde 1999, reforçou a sua presença no terreno e possui atualmente cerca de 4.800 efetivos.
O Kosovo independente – que a Sérvia considera o berço da sua nacionalidade e religião – foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os EUA, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência kosovar.