No mês em que se sinaliza o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, relembremos que este é um grave problema de saúde pública, com consequências emocionais, sociais e económicas. Segundo estimativas da OMS e da International Association for Suicide Prevention, ocorrem mais de 720.000 suicídios por ano no mundo, sendo que cada um afeta profundamente muito mais pessoas.
O suicídio ligado ao trabalho não é novidade, tanto que o Japão tem um nome para o fenómeno – Karojisatsu – que significa suicídio resultante de assédio e/ou depressão relacionados com o excesso de trabalho. Um estudo da International Labour Organization ilustra esta questão social crítica no Japão desde a segunda metade da década de 1980, ao identificar uma tendência crescente de 2 casos indemnizados em 1997, para 66 em 2011.
Mas é em 2008/2009 que o problema ganha verdadeira visibilidade, aquando da vaga de 35 suicídios na France Telécom, então a braços com uma profunda reestruturação acompanhada de gestão pelo terror.
Uma revisão de literatura do Journal of Organizational Behavior (2021) identificou a dor social e psicológica como causas centrais do comportamento suicida. Segundo a teoria interpessoal do suicídio, a dor social ocorre porque os indivíduos são incapazes de estabelecer conexões significativas com os outros ou consideram-se como um fardo para os outros.
Já a teoria do suicídio baseada na dor psicológica centra-se na dor semelhante ao sofrimento mental ou à angústia extrema. Os indivíduos que experimentam qualquer um destes tipos de dor, podem cometer suicídio para acabar com o seu sofrimento, especialmente quando percebem as suas situações como imutáveis e sem esperança.
A referida revisão revelou ainda os fatores que predizem pensamentos e comportamentos relacionados ao suicídio entre trabalhadores, incluindo relações interpessoais tóxicas, conflito entre trabalho e família, emprego instável, desemprego, fadiga, burnout, exigências do trabalho (carga de trabalho, fatores de stress, horários), características do trabalho (significado, autonomia, variedade) e o ambiente físico de trabalho (características ergonómicas e de segurança). Como é evidente, os indicadores de suicídio podem surgir em qualquer local de trabalho, pelo que todas as organizações têm a obrigação de adotar medidas preventivas.
Investigação recente (Harvard Business Review, 2022) sugere que o primeiro passo para essa prevenção consiste na criação de um ambiente de trabalho respeitoso e que promova a inclusão. O segundo reside em identificar os trabalhadores que possam constituir um grupo de risco.
O terceiro comporta criar um plano de ação. Infelizmente, as organizações podem não ser capazes de prevenir todas as mortes por suicídio, pelo que necessitam também de um plano de pós-prevenção, o qual proteja a privacidade do falecido, comunique de forma rápida/clara e ofereça apoio aos familiares.
Posteriormente deve identificar os trabalhadores afetados, oferecer primeiros socorros psicológicos e proporcionar apoio pós-morte. Finalmente, a organização deve estar atenta a marcos importantes ou datas comemorativas que podem ser difíceis para os sobreviventes do suicídio e honrar aqueles que morreram, de maneira respeitosa.
Parafraseando o psicanalista Christophe Dejours: “Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal. É dirigida à comunidade de trabalho, aos colegas, ao chefe, aos subalternos, à empresa. Toda a questão reside em descodificar essa mensagem.”