Coube a Gonçalo Leite Velho abrir as hostilidades no plenário madeirense, na manhã desta terça-feira.
Na declaração política, o deputado do PS começou com uma nota introdutória, destacando que “a democracia e a cidade são elementos que possuem uma origem interligada: a demos e a pólis. E se recordo esta origem é para que se evitem enganos. Porque se é verdade que a ‘demos’ se traduz como povo, não podemos ignorar como este termo é demasiadas vezes usurpado”.
Avisando que “não vos quero ocupar aqui muito tempo com a História, mas há lições que importa recuperar”, relevou que importa recordar que “a primavera de 1846, quando houve uma revolta no Minho. Muitos evocam esse momento na figura de uma senhora de pistolas na mão, que queria combater os cabrais – os senhores – que assolavam a nação”. “A razão para o levantamento popular foi a proibição de enterrar os mortos nos adros da igreja. Ou seja, razões de saúde pública. Aquilo que hoje considerarmos ser elementar bom senso e que na época era visto como o romper da tradição”, reforçou.
Foi por isso, disse, que “a icónica Maria da Fonte pegou nas pistolas, em modo de Antígona. E foi às costas da Maria da Fonte que o miguelismo, ensaiou o seu regresso, procurando assim acabar com liberalismo: ou seja, acabar com o progresso, o conhecimento e a própria democracia. A Maria da Fonte foi uma revolta da tradição contra a democracia e o liberalismo. Partia da ideia de união entre os aristocratas e um povo de folclore, que ficaria para sempre vestido de trajes ‘populares’, garantindo que cada um não saía do seu lugar. Aqui chegados, “a Maria da Fonte serviu para que miguelistas, absolutistas, tradicionalistas e marialvistas chegassem ao poder. E, cabe aqui perguntar, se isto não acontece mais vezes do que parece. Se não anda por aí quem se veste de verde, a reclamar pelo povo, mas que mais não faz na sua vida do que saltar entre PSD e JPP. Que para as mesas de voto dá os mesmos nomes que o PSD. Que em segredo vai dar uma palavrinha ao PSD para dar um jeito. Que tanto faz campanha de laranja como de verde, sendo que mesmo quando se vestiu de vermelho foi para dar a mão à laranja”.
Ora, “nem este episódio tem de se repetir, nem a região está condenada a viver neste fado. Regresso, pois, à democracia e à cidade para compreender que há outro caminho. Uma alternativa consciente, capaz de planear e de executar”.
“Desde o seu início que a base da democracia se concilia com a noção de ter uma ideia para a cidade. Um plano, uma visão. Não é possível governar simplesmente navegando ao corrente das situações. É preciso antever, é preciso planear e é preciso executar”, disse.
Numa declaração com olhos colocados nas eleições autárquicas, o socialista releva, então, que o PS é que é a solução ara governar acidade, lembrando-se que ele próprio é candidato à Junta de Freguesia de São Martinho, salientou que “apostar nos equipamentos e nos espaços comuns é a melhor forma de garantir uma melhor comunidade”.
“Neste quadro e a título de exemplo, não deixa de ser lamentável que os espaços verdes e os equipamentos instalados em várias áreas da Nazaré, incluído no parque na Mata, tenham ficado ao abandono”, apontou.
“É isso que desmotiva a comunidade e cria maus exemplos. Porque se as entidades públicas, a autarquia e o IHM não dão o exemplo, então quem os seguirá”, fundamentou.
“Porque a gestão do bem comum não se faz em nome próprio. O dinheiro e não é do presidente da junta, do presidente da câmara, ou do membro do governo. Trata-se do nosso orçamento, que todos temos o dever de zelar e cuja execução não é nenhum favor, muito menos um favor a pagar duas vezes: ora nos impostos, ora no voto”, disse ainda.
“Esta comunidade não precisa de um polícia em cada esquina. Mas tal não significa que não haja esquinas em que seja preciso atuar. O que é preciso é não confundir uma esquina com todas as esquinas. Ora, para essas esquinas problemáticas é claro que devemos usar a capacidade dissuasora da força policial. Para isso, é fundamental que possamos desenvolver uma estratégia de cooperação entre as autarquias, o governo e as forças policiais”, relevou.