Ponto da situação!

O fim do verão está aí à porta, encerrando um ciclo conturbado no contexto nacional, marcado por uma sequência de mega incêndios acompanhados de atos políticos desastrosos, quase cómicos, não fosse o assunto demasiado sério. Percebeu-se (uma vez mais!) que a floresta continua a ser um património de valor inestimável, mas que, a qualquer momento, somos facilmente derrotados num combate atípico contra algo que aparentemente não conseguimos controlar, não sobrando outra solução que não seja a de justificar o problema com o monstro das alterações climáticas. Hoje em dia, serve para quase tudo. Sempre é mais prático do que discutir gestão territorial, gestão florestal ou até gestão política. Esta coisa da gestão dá muita maçada. À margem desta realidade que já se afigura como uma tradição de verão, e onde nunca se chega a conclusão nenhuma, acresce agora a politização do acidente em Lisboa, comprovando o que todos já sabíamos: em Portugal, tudo gira em torno de dois temas centrais – política e/ou futebol. E disto se alimenta um povo que, segundo a OCDE, será o segundo com o nível mais baixo de proficiência em literacia, com 46% dos adultos limitados à compreensão de “textos muito curtos e com o mínimo de informação irrelevante”. Pior que nós, só os chilenos, dizem!

Seja como for, problemas todos temos. Veja-se, por exemplo, a Alemanha, onde a outrora poderosíssima indústria automóvel, vê-se a braços com uma falta de rumo gritante, face ao avanço avassalador das produções asiáticas (leia-se, chinesas), e a França, onde Macron assiste à queda do seu quinto primeiro-ministro, traído pelo estado lastimoso das finanças públicas que conduziu à apresentação de um orçamento de estado para 2026 que não convenceu os deputados da Assembleia Nacional.

Noutras geografias, um pouco mais distantes de nós, Trump soma e segue no seu rumo disruptivo. Não é para qualquer um ter a capacidade de ser mencionado para um hipotético Nobel da Paz e, simultaneamente, conseguir esbanjar milhões de dólares para transformar o Departamento de Defesa (Pentágono) num mais apelativo e intimidante Departamento de Guerra, recuperando a designação original dada por George Washington, em 1789!

De resto, as atrocidades humanas continuam a bom ritmo, sem que se vislumbre alguma luz ao fundo túnel: Israel continua imparável na aniquilação da Palestina e no extermínio dos seus habitantes e a Rússia brinca com todos, participando em cimeiras de fachada para uma paz que verdadeiramente não quer.

E é neste contexto que a UE vive e procura consolidar a sua existência, com manifestas dificuldades. À hora que escrevi este apontamento, ainda se faziam os preparativos para o discurso sobre o Estado da União (vulgo “SOTEU”) que Ursula vdL profere anualmente no Parlamento Europeu. A expectativa é muita grande, pois este é, por norma, um discurso que alia o passado ao futuro, e onde se fazem balanços exaustivos do trabalho da Comissão, anunciando-se as prioridades que se pretendem implementar para o progresso da UE e a melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos.

Não sei ainda o que foi anunciado para o futuro, mas não tenho qualquer dúvida que esta Comissão terá pela frente um enorme desafio, face a um mundo em contínua e constante mutação, em que a pressão comercial norte-americana, a persistência bélica da Rússia e as próprias debilidades internas europeias em nada ajudarão Von der Leyen e a sua equipa, que parece não usufruir do mesmo estado de graça verificado (e bem) no primeiro mandato. Nomeada pela Forbes, em 2024, como a mulher mais influente do mundo (pelo terceiro ano consecutivo), a presidente da Comissão Europeia bem necessitará de puxar dos galões para se manter à tona, neste ciclo conturbado e anormalmente imprevisível em que vivemos. E os europeus bem precisam de uma liderança forte ao leme da Europa. Ainda que esta coisa de “estar ao leme”, por si só, não seja a garantia de coisa nenhuma. A história diz-nos que não.

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *