Centenas de palestinianos saíram hoje à rua na cidade de Gaza para protestar contra a tomada por Israel da capital da Faixa de Gaza, apelar para o fim da guerra e rejeitar mais uma deslocação forçada.
“[Protestamos] para manifestar a nossa rejeição da ocupação de Gaza e das deslocações forçadas. Não queremos que nos enviem para o Egito ou para outro país”, afirmou Mahmud Salim Abdelkarim, citado pela agência espanhola EFE, um habitante de 19 anos deslocado para a capital, do campo de refugiados de Jabalia, zona que Israel ocupou quase completamente.
Este jovem é um de centenas de residentes na Faixa de Gaza que foram para a praça Saraya, na capital, com bandeiras palestinianas e cartazes em que se lia “Fim ao genocídio”, “Gaza é nossa”, “Não à deslocação, sim a ficarmos na nossa casa” e “Gaza está a morrer com os bombardeamentos e de fome”.
Abdelkarim falava segurando a foto do primo de 13 anos, assassinado há duas semanas quando tentava procurar comida, e afirmou: “Qualquer palestiniano tem direito à educação, alimentação e saúde, e qualquer outro direito que uma pessoa ocidental tenha, uma pessoa árabe também merece, em particular os palestinianos oprimidos”.
Na quarta-feira à noite, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ordenou ao Exército que acelerasse o início da tomada da cidade de Gaza, ainda numa fase preliminar.
As estimativas apontam para a existência de cerca de um milhão de pessoas na cidade de Gaza, ao passo que grande parte do resto da população (de um total de 2,1 milhões de pessoas) está amontoada no sul do enclave.
Israel tem o “controlo operacional” de 75 % da Faixa, segundo o próprio Exército israelita.
Segundo a EFE, cerca de 20 famílias por dia estão a abandonar a cidade, temendo a nova ofensiva israelita, deslocando-se para o sul do território palestiniano; no entanto, muitas resistem a deixar as suas casas.
“Não vamos sair de Gaza, a não ser para o céu”, declarou Abdelkarim, que recorda que a primeira vez que tiveram de abandonar a cidade, no final de 2023, sofreram “calamidades e injustiças”, lhes destruíram a casa e mataram familiares e amigos.
“Agora não sairemos de Gaza, aconteça o que acontecer, porque sair significa destruição e morte. Entre morrer lá ou aqui, preferimos morrer aqui, no norte da Faixa de Gaza”, sustentou.
Outro dos manifestantes, Mahmud Abu Nada, espera que a mensagem que estão a emitir da praça Saraya chegue ao mundo inteiro, pedindo: “Parem a guerra contra Gaza, parem a guerra contra as nossas crianças, as nossas mulheres e os nossos anciãos”.
“O povo de Gaza chegou à firme convicção de que qualquer solução para a agressão e a guerra passa pela unidade da palavra. Hoje, o povo saiu, com todos os seus setores e forças e sindicatos e associações, para dizer: ‘Basta!’ E para reafirmar perante o mundo que somos um povo que merece viver”, sublinhou este habitante de Gaza.
Além do anúncio de acelerar os planos para a tomada da cidade, Israel intensificou os bombardeamentos à capital.
Nos últimos dias, em Gaza, pelo menos 30 pessoas morreram diariamente: a 17 de agosto, 33 palestinianos; no dia seguinte, 27; e no dia 19, foram 36, de acordo com os relatórios diários do Ministério da Saúde local, cujos dados a ONU considera fidedignos.
Hoje, o som das explosões ouve-se praticamente a cada hora, enquanto no bairro de Zeitun (sul) e na localidade de Jabalia (ao norte da capital), o Exército israelita concentra tropas e equipamentos de uma divisão blindada, à espera de lançar a invasão.
Entre edifícios destruídos e a fome que continua a assolar a população de Gaza devido ao bloqueio quase total da ajuda humanitária por Israel, os habitantes continuam a defender o seu povo, as suas casas e a sua gente.
“É uma guerra contra o povo palestiniano que permanece firme na sua terra, confiante na sua nação. Não há desculpas para a ocupação [israelita], que inventa pretextos para cometer estas atrocidades”, lamentou Mahmud Abu Nada.