Na Madeira, falar de desporto universitário é, muitas vezes, falar de uma ausência. De uma lacuna estrutural. Não por falta de talento ou vontade, mas por ausência de um verdadeiro ecossistema que permita aos estudantes conciliar a prática desportiva com a sua formação académica. E, no entanto, o desporto é uma das mais poderosas ferramentas de integração, de coesão e de desenvolvimento pessoal e académico à disposição das instituições de ensino superior.
Quando falamos em vida universitária, pensamos naturalmente em aulas, exames, investigação, estágios. Mas esquecemo-nos com frequência de tudo aquilo que constrói comunidade, que forma carácter, que educa fora da sala de aula. O desporto é isso mesmo. É uma escola paralela, onde se aprendem valores como a perseverança, a solidariedade, a gestão emocional, o compromisso. E são precisamente estas competências que o mercado de trabalho tanto procura hoje, muito para lá dos currículos académicos.
A nível nacional, o desporto universitário ainda é muitas vezes entendido como um extra opcional, reservado a elites atléticas ou a quem “tem tempo”. Mas essa visão ignora o seu potencial transformador, sobretudo em contextos periféricos e insulares como o da Madeira. Aqui, onde os estudantes enfrentam maiores custos de mobilidade, menor oferta de eventos desportivos regulares e uma estrutura universitária de menor escala, a criação de condições para a prática desportiva deve ser assumida como prioridade estratégica.
É neste contexto que se destaca a criação do Clube Desportivo Académica da Madeira, projeto de diversos estudantes da UMa. Propondo uma entidade que surge com o propósito claro de dar corpo a essa visão de futuro. Este projeto visa dinamizar o desporto universitário na Madeira com profissionalismo, regularidade e ambição. Através de parcerias com a Universidade, com associações estudantis e com entidades públicas, procura-se garantir que os estudantes possam treinar, competir e evoluir. Sem que isso signifique abdicar da sua formação.
Não se trata apenas de formar atletas. Trata-se de formar cidadãos mais resilientes, mais saudáveis e mais preparados para os desafios da vida adulta. Trata-se de criar oportunidades para que estudantes madeirenses possam representar a sua região em campeonatos nacionais e internacionais, levando consigo o nome da Madeira e reforçando a autoestima de toda uma geração.
Num tempo em que tanto se fala de saúde mental, de combate ao sedentarismo, de bem-estar estudantil, o desporto não pode continuar a ser ignorado ou remetido para segundo plano. É preciso financiamento, claro. É preciso vontade política e institucional. Mas, sobretudo, é preciso acreditar que o desporto universitário não é um luxo. É uma necessidade. E, se for bem estruturado, pode tornar-se um dos principais motores de coesão académica e excelência formativa.
O futuro do ensino superior na Madeira não se constrói apenas com novas licenciaturas ou laboratórios. Constrói-se também nos pavilhões, nos campos, nas pistas e nos espaços onde os estudantes aprendem a ser mais do que alunos. Aprendem a ser uma equipa. E esse é, talvez, o passo que nos falta dar.