São aos magotes.
Andam por quase todo o lado, «arrebanhados» em grupos enquadrados, ou em aventuras mais ou menos solitárias, sugeridas por leituras ou conversas.Muitos alugam o seu transporte, fazendo com que tenham disparado as empresas de aluguer, a rondar as três centenas. Não admira que as estradas e caminhos estejam a abarrotar, que os estacionamentos de qualquer forma e feitio abundem e atrapalhem, que o trânsito caótico esfrangalhe os nervos, que as manobras descuidadas e inadequadas surjam a cada canto.As levadas deixaram de ser caminhadas tranquilas, percursos de meditação e acalmia, os miradouros aguentam enchentes.Os caminhos rurais perderam o silêncio, as praias de areia importada parecem tapetes de retalhos.Os alojamentos locais enxameiam e trazem a barafunda aos prédios que seriam de habitação.A hotelaria ganha recordes de ocupação, mas continua normalmente a praticar salários pouco atraentes, com horários escravizantes ao serviço dos novos donos disto tudo.Os preços de bens essenciais trepam a montantes escandalosos.As habitações são negócio de lucro fácil, mas os locais ficam cada vez mais distantes da hipótese de aquisição.As rendas escaldam sem escrúpulos, a restauração pratica preços de gourmet.O aeroporto atinge recordes de utilização, afinando pelo tom do melhor destino há largos anos, o que faz desembocar hordas de nacionalidades numa terrinha que perdeu pacatez.Os serviços prestadores de cuidados de saúde começam a bloquear com a admissão de novas clientelas, conduzidas por sistemas ou artimanhas fantasmas que as canalizam para atendimentos sem esperas nem reservas, com prejuízos de quem não tem outros meios que não sejam os de agendar hora com meses de antecedência.A noite urbana passou a ter nova clientela, ávida de ponchas e cerveja, a entrar em excessos de risco acrescido, e com sinais de novas formas de violência com sabor a xenofobia.
Não há dúvidas de que o turismo virou moda depois da pandemia.Vêm à busca da novidade, da emoção, alguns nada cumpridores das normas de segurança pelo prazer da aventura, ou pela sobranceria que leva à violação pouco punida das regras em vigor.Há queixas de zonas pouco limpas, aumentam, porém, as dúvidas de quem serão os maiores causadores da sujeira que vai campeando.Há quem se atreva a instalar-se em zonas claramente desadequadas, num desrespeito aviltante de princípios e costumes.
Nesta barafunda turística, o madeirense de gema começa a sentir-se um tanto espoliado da sua terra, terra que transformou em lugar aprazível, conquistada à densidade da floresta, aos precipícios das colinas e vales, às vagas das marés.Hoje, para palmilhar a sua terra, o local tem de enfrentar multidões, de permanecer em longas fileiras de espera, de aguardar vez nos serviços ora partilhados por muitos mais, de suportar preços inflacionados pela maior procura, de ceder espaço e património a quem traz maior capacidade financeira.
O certo, porém, é que uma pergunta ou reflexão se impõe:E se, pelo contrário, esta pérola plantada no Atlântico, começasse a ser abominada por visitantes, a ser votada ao abandono e ao esquecimento, deixada quase apenas aos nascidos ilhéus, privilegiados na sua terrinha esquecida e solitária?
Talvez tenhamos de repensar o turismo, acertar medidas que privilegiem o bom convívio de residentes e visitantes, e que assegurem o privilégio de estar, visitar e usufruir, com tranquilidade e segurança, de um cantinho onde pousou um dia a mão de Deus!