Fazer a diferença

Recentemente, com a morte prematura do ex-jogador do F.C.Porto e da seleção Jorge Costa (1971/2025) voltou a colocar-se a dimensão daquilo que faz distinguir o líder do gestor(diretor), quando muitos lhe reconheceram um efetivo papel de liderança nas funções que desempenhou.

Esta é matéria que tem ocupado grande parte da literatura técnica sobre esta questão, sendo que é unânime entre todos aqueles que, com conhecimento, se têm ocupado deste estudo, de algo que não se confunde e pode fazer, numa organização, a verdadeira diferença.

É do senso quase empírico reconhecer que o líder se concentra nos indivíduos, na visão e na sua motivação e por isso o seu papel é inspirador criando um ambiente onde as pessoas querem dar sempre o seu melhor. O gestor foca-se nos processos, nos recursos e nas metas que têm de ser alcançadas. Eis, pois, porque, a autoridade do gestor lhe advém do cargo, enquanto o líder obtém uma autoridade informal, que é fruto do respeito, da confiança e do exemplo com que age, e que os demais lhe reconhecem. Quando olhamos pelo prisma da motivação verificamos ainda, que enquanto o gestor motiva por meio de regras e recompensas, o líder motiva através do reconhecimento, da valorização e, sobretudo, contribui para o desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional daqueles que convivem na organização criando aquilo que se denomina por “sentido de pertença”.

Estamos em crer, pois, que J. Kotter na sua obra “A Force for Change: How Leadership Differs from Management” (1990) acaba por sintetizar de forma assertiva toda esta realidade. Este autor afirma que gerir é lidar com complexidade: planear, organizar, controlar, garantir que o trabalho seja feito de forma consistente e previsível; enquanto liderar é mais e diferente, trata-se de lidar com a mudança: criar visão, alinhar pessoas e inspirá-las a seguir em direção a novos objetivos.

Em nosso ver o verdadeiro equilíbrio intraorganizacional é, mais que nunca, relevante e crucial no sucesso de qualquer organização. Pelo que, o desenvolvimento e potencial de gestão e liderança requer uma redução, nas lógicas e nas estratégias atuais, por forma a permitir a criação de um ambiente criativo e inovador. Olhar, assim, para estas dimensões e perspetivá-las como elementos complementares, resultado das duas diferentes conceções e que a necessidade hoje, também, mais do que nunca, de incutir, para além da gestão, a liderança nas organizações é fundamental.

Profissionalmente, os tempos que vivemos são de incerteza, exigência, diversidade, complexidade, competitividade. Todo o contexto que as mudanças (ainda em curso) no mundo laboral estão a ocorrer tornam ainda mais exigentes a condução das organizações públicas e privadas. Mais, os desafios que a IA vai trazer nos próximos anos é disto um exemplo.

Atualmente, assiste-se a que muito deste cenário vem conduzindo à dispersão, desilusão, ao esforço em demasia, ao aumento da resistência à mudança, ao surgimento do conflito, quando não à apatia ou ao quiet quitting. A necessidade de afirmar a liderança, já que por si só a gestão e o gestor não alteram o status quo, torna-se fundamental. É justamente, neste contexto, que urge incutir o desenvolvimento das lideranças, de topo e intermédias, nas organizações. Mais, que a estas esteja associado um verdadeiro e genuíno sentido ético, que realce a importância da afirmação dos valores, da visão e do mérito na organização, aspetos que devem amiudadamente ser invocados, destacados e praticados. Pelo que é também neste espaço, que uma liderança formativa, proativa e relacionada com a efetiva resolução dos problemas é fundamental, já que está intimamente ligada às pessoas -não confundir com recursos humanos- e os seus problemas.

Terminamos com algo que nos move. O gestor administra o presente para que tudo funcione bem; o líder constrói o futuro inspirando pessoas.

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