Israel vai permitir a saída para o estrangeiro dos habitantes da Faixa de Gaza que queiram fugir do território palestiniano, anunciou hoje primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ao mesmo tempo que afastou um cessar-fogo com o grupo islamita Hamas.
Questionado numa entrevista ao canal de televisão i24 News sobre a possível saída para o estrangeiro dos habitantes do enclave palestiniano, Netanyahu afirmou que “isso acontece em todos os conflitos”, apesar do bloqueio que Israel impõe ao território e de os países vizinhos terem recusado receber vagas de refugiados quando anteriormente foram colocadas hipóteses de deportações em massa.
“Na Síria, milhões partiram (…), na Ucrânia, milhões partiram, no Afeganistão, milhões partiram… E de repente eles [comunidade internacional] decidem que, em Gaza, os civis devem ficar presos? Deem-lhes a oportunidade de sair, antes de tudo, das zonas de combate e, em geral, do território, se assim o desejarem”, apelou o primeiro-ministro israelita.
Referindo que não podia entrar em pormenores, o chefe do Governo relatou que está em contacto com vários países na qualidade de possíveis anfitriões, insistindo que “o mais natural, para todos aqueles que se manifestam, aqueles que dizem que se preocupam com os palestinianos e os querem ajudar, é abrir as suas portas” a quem queira abandonar o território.
“Vamos permitir isso, em primeiro lugar, dentro de Gaza, durante os combates, e certamente permitiremos que eles também saiam de Gaza. Não os estamos a expulsar, mas estamos a permitir que saiam, e é isso que está a acontecer”, sustentou Netanyahu.
O Exército israelita anunciou uma nova fase dos combates, ao fim de 22 meses de ofensiva, no seguimento da aprovação do Gabinete de Segurança do plano de ocupação da Cidade de Gaza e deslocação de centenas de milhares dos seus habitantes, além da expansão das operações militares aos campos de refugiados da costa central do enclave.
Na entrevista ao canal i24 News, Netanyahu rejeitou a possibilidade de um cessar-fogo de 60 dias com o Hamas, no âmbito da tentativa de relançamento de negociações entre as partes, anunciada hoje pela mediação egípcia e que envolveria a libertação de reféns em posse das milícias palestinianas.
“Penso que já ultrapassámos isso. Tentámos, fizemos todo o tipo de tentativas (…), mas no final de contas estavam apenas a enganar-nos”, comentou o primeiro-ministro israelita, referindo-se às rondas anteriores, que não produziram resultados.
Netanyahu reiterou hoje que quer recuperar todos os cerca de 50 reféns mantidos pelo Hamas, dos quais se estima que 20 estejam vivos.
Além da ocupação da Cidade de Gaza, o novo plano israelita, que suscitou amplas críticas dentro e fora de Israel, tem como objetivos a destruição do grupo armado palestiniano e a libertação dos reféns, seguindo-se a criação de um “perímetro de segurança” e entrega do território a uma administração civil que não seja hostil a Telavive.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito, Badr Abdelaty, revelou hoje aos jornalistas no Cairo que o seu país está em negociações com o Hamas e Israel para retomar a proposta de cessar-fogo do enviado norte-americano para o Médio Oriente, Steve Witkoff, com o qual o governante egípcio diz manter “contacto diário”.
A proposta inclui uma trégua de 60 dias, durante a qual o grupo palestiniano libertaria dez reféns vivos na Faixa Gaza e outros 18 mortos, e um período durante o qual as partes abordariam o fim definitivo da guerra.
A Faixa de Gaza, totalmente dependente de ajuda humanitária, está ameaçada por uma “fome generalizada”, segundo a ONU, que pediu a entrada de apoio urgente face a uma “catástrofe inimaginável”, apesar de Israel negar este alerta, que é acompanhado por outras organizações internacionais e advertências de vários países.
O conflito no enclave foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 61 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.