No fim da segunda grande guerra o padre luterano, Marin Niemöller, escreveu, em jeito de poema, uma crítica ao silêncio perpetuado pelos intelectuais germânicos e a igreja enquanto o Nazismo crescia e perseguia nichos da sociedade alemã. O poema esse é sobejamente conhecido:
“Primeiro vieram pelo socialista, e eu não falei
Não era socialista.
Depois vieram pelos sindicalistas, e eu não falei
Não era sindicalista.
Depois vieram pelos judeus, e eu não falei
Não era judeu.
Finalmente vieram por mim, e não sobrava ninguém para falar por mim.”
A atualidade da mensagem continua a ser, nos dias de hoje, cada vez mais relevante. Primeiro porque estamos a assistir, praticamente ao segundo, a repetição da história.
Aos socialistas já vieram por eles, começou com a mudança das balizas num Portugal que retoma a rematar cada vez mais à direita, com o movimento do centro mais encostado a esse canto, com partidos com o nome “socialistas” a jogarem cada vez na ala de Luís Figo, deixando a política portuguesa cada vez mais cambada.
Os sindicalistas também já andam por aí, mas algo mais preocupante surge, o silêncio dos mesmos, as tão faladas alterações laborais servem mais a um lado que outro. E ninguém fica surpreso com as notícias saídas no início do mês, com os patrões a pedirem ao Governo da República Portuguesa que os despedimentos sejam mais fáceis e que seja aumentar o horário laboral. Viva aos colaborados, morte aos trabalhadores.
Aos imigrantes já vieram, foram e vão voltar. A afamada lei que queria separar crianças dos pais, aprovada em parlamento pela direita que passou a jogar mais ao extremo, foi chumbada pelo Tribunal Constitucional. Volta ao parlamento, que verá a direita a aprovar a mesma, mais uma vez, para depois irem pelos imigrantes.
Vieram também pelas mulheres, pelos direitos delas, continuamos a não alterar a lei do aborto, Portugal é dos países onde o prazo para a interrupção voluntária da gravidez é mais curto. Agora é o “prazo” da amamentação, isto para além de interferir na mãe, também interfere no filho, isto num país em que a natalidade decresce a olhos vistos.
Pelas pessoas também já vieram… Nós é que ainda não reparamos, pois, o espaço de opinião está como aquele médio centro que descaí sobre o corredor direito.
Daqui a dias ninguém falará por nós.