Hoje, escrevo livremente. Sem tema. Sem pressa. O tempo, em agosto, quer-se mais lento. Mas, a velocidade dos acontecimentos não tem permitido. Ainda pensei muito sobre o que escreveria. Com uma preocupação apenas: em não ser maçadora. A verdade, é que escrevo tanto quanto falo. Muito. Mesmo em agosto. Muito embora quisesse dar uma folga aos pensamentos, que se atropelam, vinha-me à cabeça várias ideias para colocar na ponta dos dedos. Sobre o teclado. Queria escrever sobre um ou dois temas que me têm inquietado. Ainda que de formas distintas.
Um e outo, incomodaram-me. Mas, pensei em si. Ninguém merece ler tantos tratados, sejam eles sobre que assuntos forem, em plena silly season. E em agosto, temos de ser leves. Ou deveríamos tentar ser mais suaves. Brandos. Nas leituras. Nas análises. E na escrita. Não consigo, ainda que tente. Por isso, não posso deixar de lhe dizer que em relação a um deles, fiquei desconfortável. Falo em concreto da posição tomada pelo nosso Presidente da República, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa.
No final de julho, o Presidente da República pediu fiscalização preventiva ao Tribunal de Contas sobre a constitucionalidade de vários pontos da nova legislação sobre imigração, nomeadamente os direitos ao reagrupamento familiar, os prazos de resposta da AIMA, a Agência para a Integração, Migrações e Asilo, e o direito de recurso dos imigrantes. Já em agosto, veio a público afirmar que admite promulgar a nova lei dos estrangeiros, mesmo discordando politicamente das soluções aprovadas pela maioria parlamentar: PSD, Chega e CDS. Confesso que não me deixou confortável. Inquieta-me o politicamente correto. Pior mesmo, na minha opinião, foi o outro assunto, sobre o qual não queria escrever. Pela polémica. E, pelo risco de não ser bem entendida.
Refiro-me à onda de críticas que se gerou em torno das afirmações da nossa Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário da Palma Ramalho, sobre os alegados abusos no direito à amamentação. Deprimente. Não as suas declarações. Mas as reações de associações de defesa de tudo o que mexe, que me envergonham. E falam em nome das mulheres do meu País. Não me revejo nelas. Não nas mulheres. Refiro-me a estas associações. As tais que certamente dirão que também não percebo absolutamente nada de aleitamento materno nem de amamentação.
Há 32 anos, idade da minha filha mais velha, retirava-se o leite da mama com recurso a uma desmamadeira, manual, hoje, um extrator de leite ou bomba tira-leite, elétrico, e colocava-se no frigorífico, em biberão (antepassado dos atuais copos coletores) previamente esterilizado, numa panela com água a ferver, para que estivesse sempre disponível, após aquecido em banho-maria, para alimentar, nas várias horas do dia e da noite, o bebé.
No meu caso, a minha Mariana. No nosso caso, este processo de amamentação e desmamadeira, durou dois meses. O bastante. Em dores, para mim. De fome, detetada pelo não aumento do peso, para ela. Depois dos suplementos, logo vieram as sopinhas raladas, em puré, a introdução da fruta, também ralada, em puré. E, por aí fora. E teria sido o mesmo processo para a minha filha do meio, a Constança. O mesmo aconteceria com o mais novo, o Afonso. Mas, não foi o que se sucedeu. Sem dramas. E um certo alívio, confesso. Por indicação médica. E, não. Não me sinto menos mãe dos meus filhos. Nem eles são menos filhos da sua mãe. Não embarco nesses histerismos. Peço desculpa, pela frontalidade. Não vejo em que condição a licença de amamentação até aos dois anos, seja contrária à promoção da natalidade ou até mesmo, como algumas associações afirmaram, um obstáculo à conciliação entre vida profissional e familiar. A sério que não consigo ver o alcance de tais conclusões.
Sobre este assunto, a própria Organização Mundial da Saúde, publicou uma série de recomendações que vão no mesmo sentido e que estão alinhadas com o Governo, ou seja, da defesa da amamentação até aos dois anos. Parece-me um ótimo indicador e é, para mim, muito esclarecedor. Sejamos sensatos. Deixemo-nos de extremismos. Não é o nosso Governo que está desinformado. Deixemos de ser politicamente corretos. Boas férias.