Uma série de ataques contra políticos na Alemanha, o mais recente dos quais o esfaqueamento de um candidato de extrema-direita, levantou um debate nacional sobre o clima de violência política na Alemanha.
Hendrik Wüst, o primeiro-ministro conservador da Renânia do Norte-Vestefália, declarou em maio numa entrevista à televisão pública alemã, posteriormente citado pelo portal Político, que os recentes ataques a políticos “lembram o capítulo mais sombrio da história alemã”.
Em fevereiro, o Parlamento alemão afirmou num relatório que houve um total de 2.790 ataques a representantes eleitos em 2023. Os representantes dos Verdes foram afetados em 1.219 casos, os do Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita) em 478 casos e os representantes do Partido Social-Democrata (SPD) em 420 casos.
Na terça-feira, um candidato do AfD às eleições autárquicas – que se realizam no domingo – foi esfaqueado na cidade de Mannheim, no sudoeste da Alemanha, encontrando-se hospitalizado, mas sem risco de morte.
O ataque com faca ao membro do AfD aconteceu perto da mesma praça onde na sexta-feira um outro ataque com arma branca deixou um polícia morto e outras cinco pessoas feridas. Um homem afegão de 25 anos esfaqueou vários membros de um grupo que se descreve como opositor ao “Islão político”.
O grupo Pax Europa descreve-se como uma organização que informa o público sobre os perigos representados pela “crescente difusão e influência do Islão político”. Michael Stürzenberger, um ativista anti-islâmico que é uma das principais figuras do grupo, estava entre os feridos. O agressor ainda permanece no hospital.
Em maio, Matthias Ecke, um político do SPD, de centro-esquerda, e membro do Parlamento Europeu, estava a colocar cartazes de campanha para as próximas eleições europeias em Dresden, no leste da Alemanha, quando foi alegadamente abordado por um grupo de quatro jovens e espancado. Ecke sofreu fraturas no rosto e na órbita ocular, entre outros ferimentos, e foi hospitalizado.
Na mesma noite do ataque a Ecke, na mesma parte de Dresden, esse grupo de jovens também teria atacado um ativista dos Verdes.
Ainda em maio, em Dresden, a candidata local dos Verdes, Yvonne Mosler, estava com uma equipa de televisão a colocar cartazes de campanha quando um homem a empurrou para o lado, arrancou os cartazes e uma jovem cuspiu na candidata.
Outros ataques ocorreram recentemente, incluindo um também em maio contra a ex-autarca de Berlim, a política do SPD Franziska Giffey, agredida num biblioteca pública por um homem que a atingiu na cabeça com um “saco cheio de conteúdo duro”, segundo a polícia.
O vice-chanceler do país, Robert Habeck, que é membro dos Verdes, foi impedido de desembarcar de um ‘ferry’ durante horas por um grupo de agricultores furiosos em janeiro, e a vice-presidente do Parlamento alemão, Katrin Goering-Eckardt, também do Verdes, foi impedida de sair de um evento no estado de Brandemburgo na semana passada, quando uma multidão enfurecida bloqueou o seu carro.
De acordo com o portal Político, muitos alemães consideraram o assassínio em 2019 de Walter Lübcke, um político da União Democrata-Cristã (CDU) – que apoiou o acolhimento de refugiados durante o governo de Angela Merkel -, por um neonazi como um ponto de viragem sombrio na história do pós-guerra do país, marcando a primeira vez que um político foi assassinado por um membro de extrema-direita na Alemanha desde a II Segunda Guerra Mundial.
Muitos políticos alemães culpam o AfD e uma extrema-direita por usar uma retórica cada vez mais inflamada.