Aposto que já vos aconteceu inúmeras vezes sentirem-se enganados. Ora pelo preço excessivo de algum bem ou serviço. Ora por promessas não cumpridas. Ou até pelas expectativas que criámos sobre determinado assunto. Não se sintam sós. Estamos juntos. Também eu passei por isso, novamente, um destes dias. Sim, li que as “lapas proibidas geram revolta e explicações”. Na mesma página tinha também: “ex-líder do PS integra lista independente em São Vicente” e “militante do PSD é escolha do Chega em Santa Cruz”. Já antes tinha visto que “António Gonçalves encabeça lista contra exposições externas” e “António Trindade desfilia-se e denuncia clima de silenciamento”.
Afinal de contas, a que lapas se referiam aquelas “gordas” da capa?! Aos moluscos gastrópodes univalves ou aos outros seres vivos igualmente pegajosos e de difícil apanha?! Assim que me apercebi que o motivo da proibição era a “preservação da espécie em risco de desaparecimento”, vi logo que se tratava da iguaria… É que dos outros eu creio que o colapso não se adivinha tão próximo. São mais que as mães.
Porém, eu juro que os admiro. Por mais que digam o contrário, eu não consigo deixar de sentir uma certa compaixão para com os que dedicam (ou pelo menos tentam) toda a sua vida à causa pública. É muito mais confortável estar do lado de fora… E ganha-se mais! Bem, mais se estivermos a falar do declarado. Mas isso é o de menos. O pior é a exposição. Sim, vejo isso pelo senhor que vive com a minha mãe. O tipo, nasceu filho de serralheiro e de bordadeira (ao contrário do ex-líder do PS nacional, este, o mais próximo que tem de um sapateiro é o filho) e fez-se à vida. Estudou em escolas públicas. Formou-se no continente sem bolsas, mas com valores. Voltou para a sua terra e trabalhou muito. O mais próximo que esteve da política foram as vezes em que ia colocar o boletim de voto nas urnas. Juro! E eu orgulho-me tanto disso que vocês não fazem ideia…
Porém, talvez fatigado da rotina, aceitou um desafio. Poder-se-ia dizer que teria sido convidado a sair da sua zona de conforto… Mas não! Ele nunca lá entrou. Passou a vida a privilegiar o conforto dos outros em detrimento do dele. Sim, ele esteve sempre do lado de fora. E sim, preparava-se novamente para voltar a promover o refastelo de terceiros em sacrifício próprio.
Acho até que ele já o faz de forma inconsciente. Não se apercebe disso, pronto. No fundo é o seu modus operandi. Cresceu para, primeiro, tomar conta dos progenitores e das irmãs. Fê-lo e continua a fazê-lo de forma exímia. Depois, orientou os filhos (a filha vá, que o filho saiu um torto do pior como o próprio reconhece) como eu não conseguirei certamente copiar. Até pelos netos ele procura ainda zelar.
Talvez por isso eu não entenda quem possa sentir-se melindrado pelo facto do Luís Nunes (como o tratam e diz logo que não o conhecem de lado algum) ter recusado (a tempo) ser candidato a Presidente de uma Câmara, mas aceitar o convite para continuar no cargo que ocupa (caso vença a eleição). Não entendo. Desculpem, mas não entendo. O que faltava agora era ele ter que dar Cavaco a alguém. Um cargo não tem nada a ver com outro. Um é executivo e outro deliberativo. Um gere e administra. Outro fiscaliza. E misturar uma coisa com a outra é o mesmo que confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre de obra. Tenham juízo. E votem. Nele ou noutro qualquer, que é para o lado que durmo melhor…
O que me tira o sono são outras coisas. Fico sem pregar olho. Acelera-me o coração. Isto só de pensar que há habitações a custos (des)controlados transformados em AL como denunciado pela Coligação Confiança. Isso sim é grave. Isso sim merece indignação. Como é possível que apartamentos destinados a responder à necessidade de habitação aos mais desfavorecidos, acabem a ser explorados como Alojamento Local?! A ser verdade não peço 1 castigo. Peço 2. Um para quem pediu o licenciamento e outro para quem o autorizou. E já agora, se não for pedir muito, acabem de vez com os AL’s em apartamentos! Ou isso ou então arranjem-me um T3 a custos controlados no Savoy Palace para passar o resto dos meus dias…
Sim, sou feliz com pouco. No simples do luxo. Não, não preciso do helicóptero pretendido pelo meu Presidente do Governo Regional para transportar os jogadores do golfe. Enfim… Outra lapa.