O ministro da Segurança Nacional israelita, o colono de extrema-direita Itamar Ben Gvir, incitou hoje o Governo de Israel a declarar guerra ao grupo libanês Hezbollah, durante uma visita à fronteira norte do país.
Nessa zona, deflagraram na segunda-feira incêndios causados por ‘rockets’ lançados do Líbano pelos combatentes daquele grupo xiita e pró-Irão.
“Estão a queimar-nos aqui. Todos os bastiões do Hezbollah devem ser incendiados, devem ser destruídos. Guerra!”, declarou hoje o ministro israelita numa mensagem de vídeo publicada na sua conta da rede social X (antigo Twitter).
Na mesma mensagem, Ben Gvir sustentou que enquanto o grupo libanês “está a ferir e a obrigar à retirada das pessoas” no norte de Israel, de onde cerca de 60.000 habitantes se encontram há quase oito meses deslocados, no Líbano “há tranquilidade”.
Segundo a ONU, mais de 93.000 cidadãos libaneses do sul do país viram-se também obrigados a abandonar as suas casas desde o início dos combates transfronteiriços com Israel, em outubro do ano passado.
Paralelamente, num excerto hoje divulgado de uma entrevista concedida à estação televisiva qatari Al-Jazeera, o ‘número dois’ do Hezbollah, Naim Qassem, afirmou que a milícia do seu grupo não tenciona alastrar as hostilidades contra Israel, mas estará disposta a combater se se vir obrigada a fazê-lo.
“Qualquer expansão israelita da guerra contra o Líbano causará devastação, destruição e deslocação em Israel”, disse Qassem na entrevista, acrescentando: “Se Israel quiser travar uma guerra total, estamos preparados”.
As trocas de fogo na fronteira entre os dois países começaram a 08 de outubro, um dia após o início da guerra de Israel contra o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, e como demonstração de solidariedade por parte do Hezbollah, próximo do Irão, tal como o Hamas.
Mas o fogo cruzado intensificou-se muito nas últimas semanas, o que faz temer uma guerra aberta entre as duas partes, como a que ocorreu em 2006.
Em Israel, estes ataques fizeram pelo menos 23 mortos – 13 militares e 10 civis -, ao passo que do outro lado da fronteira foram mortas mais de 415 pessoas: cerca de 300 combatentes do Hezbollah, 47 membros de outras milícias, um soldado libanês e pelo menos 68 civis, entre os quais dez menores e três jornalistas.
Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas depois de este, horas antes, ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis.
O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) – desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel – fez também 251 reféns, 120 dos quais permanecem em cativeiro e 41 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 242.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 36.550 mortos, mais de 83.000 feridos e cerca de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após quase oito meses de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.