Na passada sexta-feira, o Clube Sport Marítimo deu um passo histórico. Quase 500 sócios participaram na Assembleia Geral que aprovou, com larga maioria, a entrada de um novo investidor na sua Sociedade Anónima Desportiva. Foi um momento de afirmação viva do clube, da sua massa associativa e da força democrática que nos distingue. Num tempo em que tantos se afastam, ver centenas de sócios reunirem-se para decidir o futuro da instituição é, por si só, um sinal poderoso: o Marítimo está vivo, atento e comprometido com o que virá.
Não posso deixar de assinalar, com respeito, os cerca de 44 sócios que votaram contra. Deram a cara pela sua convicção, defenderam a sua ideia, e isso, num clube que se quer plural, é de enaltecer. Não foi a vontade da maioria, é certo, mas foi um voto consciente, presente e legítimo.
Já o mesmo não se pode dizer dos que, do conforto do sofá e armados em jurados do Facebook, vieram nos dias seguintes vomitar críticas. Alguns nem sócios são, outros nem sequer se deram ao trabalho de estar presentes e expressar o seu voto. Esses “heróis do teclado” são uma das pragas dos nossos tempos: falam muito, fazem pouco e vivem à boleia da destabilização. A crítica é saudável — mas quando vem de quem participa. O resto é ruído. E infelizmente o nosso clube há muito que vive de ruído.
O Marítimo precisa de investimento. Esta frase não é um grito de rendição, é uma constatação crua da realidade. A transformação do futebol em Portugal — e no mundo — colocou as SADs numa corrida desigual. Há anos que clubes com menos história, mas mais músculo financeiro, passaram a competir connosco em vantagem. Ainda no dia que se realizava a reunião magna do Marítimo, saía a notícia que o Tondela havia adquirido um jogador pela módica quantia de 2 milhões de euros. O Tondela. Esta é a nossa concorrência.
A verdade é que hoje, quem não tiver acesso a capital está condenado a definhar. O Marítimo, com a sua história centenária, não pode ser espectador. Precisa de um parceiro com capacidade de injetar recursos e, mais do que isso, com acesso a financiamento que permita pensar o clube a 5, 10 ou 15 anos. Ficar para trás seria abdicar do nosso lugar no futebol português e europeu. A quem prefira pequeno e modesto. Eu prefiro procurar a grandeza.
Mas o clube protegeu-se. O património continua a ser do clube. As receitas da exploração do estádio — fora das competições — pertencem ao clube ou são partilhadas. Os estatutos da SAD, reforçados pela lei, garantem direitos ao Marítimo enquanto acionista, entre os quais estar sempre presente no conselho de administração da SAD, garantindo ainda que a imagem, as cores e a história do clube são intocáveis. E independentemente da percentagem futura, o clube terá sempre direito a dividendos dos lucros da SAD. Além disso, esta operação garante uma almofada financeira imediata ao clube que dá estabilidade e liberdade à direção para se focar na sua missão social, formativa e desportiva.
Quanto ao investidor, entendo e partilho a frustração de muitos: o nome só foi conhecido no próprio dia. Isso gerou desconfiança. Legitimamente. Teria sido desejável outro processo, mais aberto, com mais tempo para os sócios se informarem, pesquisarem, criarem empatia com quem agora passa a fazer parte da estrutura. Uma comunicação mais transparente teria facilitado tudo. Provavelmente, o ideal seria algum grupo de capital madeirense, ligado à história do clube e da Região. Mas algum se chegou à frente?
Ainda assim, o que foi dito na AG deixou-me, pessoalmente, agradado. O representante do grupo não fugiu às perguntas e foi claro em vários pontos. Primeiro, mostrou a dimensão da empresa — não estamos a falar de uma firma de vão de escada (sei que há uns ‘zunzuns’ sobre isto, mas só demonstra ou desconhecimento ou, pior, a má vontade de quem o faz). Depois, afirmou: “viemos para ficar”, sinal de que este não é um investimento de ocasião. Quando questionado sobre o “porquê” do Marítimo, respondeu com aquilo que esperávamos ouvir: escolhem o Marítimo pelo seu histórico, pela sua identidade e pelo seu simbolismo. E, mais do que isso, afirmou várias vezes que o Marítimo será o clube europeu principal do grupo. Esta distinção é fundamental pois não queremos ser mais um no portefólio de grupos detentores de clubes – queremos ser o pilar europeu de um projeto ambicioso.
Claro que tudo isto tem risco. Como qualquer decisão importante. Não temos garantias. Mas temos esperança, temos exigência, e temos um clube que decidiu não cruzar os braços.
No fim do dia, não é isso que todos queremos? Um Marítimo mais forte, mais competitivo, mais respeitado? Esta foi a escolha da maioria. E agora, mais do que nunca, é tempo de união.
O futuro já começou. E veste verde-rubro.