Anda uma humorista a ser julgada por sei lá o quê! Difamação não será. Calúnia também não. Adulteração de conteúdos? Não me parece. Uso indevido de imagem? Tão-pouco.
Ao que sei, a senhora limitou-se a pegar num vídeo em que 2 artistas cantam o hino português. Bem, cantam como quem diz. Adaptaram-no! Juntaram uns agudos aqui. Umas pausas ali. Um ohhhh-uuuhhhhh acolá. Deram-lhe um toque seu, pronto. Fizeram-no à sua maneira! E quem gostou, gostou. Quem não gostou, azar o seu…
A senhora, astuta, não perdeu tempo e viu ali matéria-prima de qualidade. Cortou o vídeo/áudio, juntou uns “apartes” que a caracterizam também. Fez, no fundo, o seu trabalho. E quem gostou, gostou. Quem não gostou, azar o seu… Só que não! Se quem não gostou de ouvir o hino assassinado não se deu ao trabalho de apresentar queixa na justiça, já quem se sentiu ofendido pela sátira, pediu um milhão de euros pelos danos causados. Fossem estas crises de acne, concertos cancelados ou noites mal dormidas.
E acreditem ou não andam todos em tribunal a discutir os limites do humor e a sensibilidade dos anjos (sim, que o sexo aparentemente não é discutível).
Só faltava a comediante ser condenada por ofensa à integridade física e ser proibida de ter acesso à internet com apresentações semanais e apreensão de passaporte. Voltaríamos assim ao tempo de Idi Amin Dada… Sim, o ditador escurecido do Uganda garantia a liberdade de expressão! A sério. Para ele era sagrada. Mas só até à expressão. Já após a mesma a conversa era outra.
Quem parece não querer correr riscos são 17 irmãs. Calma, irmãos, mas não de sangue. Refiro-me a umas religiosas. As Clarissas! Apesar de não viverem em países sob ditaduras, longe disso, dedicam a sua vida à oração e ao silêncio. Foram dar com elas, não me perguntem como, no mosteiro de Nossa Senhora da Piedade da Cruz da Caldeira, em Câmara de Lobos. Segundo dizem, não abrem a boca senão para rezar e comungar. Não dão um pio. Valha-me Nossa Senhora. Deus me livre, mas quem me dera. Dei por mim a imaginar a santinha que tenho em casa a seguir a mesma doutrina. Eu meter a chave à porta e tê-la de joelhos do lado de dentro… E, sem brigar, não me questionar o porquê de chegar tão tarde! Mais, passar o dia a rezar por mim. Enfim. Dizem que cada um tem o que merece e eu devo ter jogado pedras à cruz. Ou então enganei-me no mosteiro! É que ela é exactamente o oposto… Irmã da Chiça.
Outro que também devia ter umas aulinhas com as irmãs é um tal de Sócrates. O filho da mãe nem no tribunal se cala. Pelo que li, já nem a juíza (não, já não é o Rosa) o pode ouvir. E o pior é que, ou muito me engano ou o tipo vai mesmo safar-se. Se não for afastando todos os juízes e acabando a ser julgado pelo próprio, que seja pela prescrição dos processos… E isso fará dele inocente? Nem um pouco. Nem a ele nem a muitos que andam por aqui, arguidos, e se gabam de que ainda não foram condenados. Ah povo enganado. A justiça até pode vir a ilibá-los, mas vão ter que agradecer (e pagar) esta vida e a outra a quem os defendeu.
Por falar em trafulhas, então não é que foi apanhado, pela PJ de Setúbal, no Seixal, um inteligente de 38 anos fortemente indiciado pela prática de vários crimes de burla qualificada e branqueamento de capitais? Foi pois. O fulano contactava as vítimas por telemóvel. Isso, por si só, não é crime. Fi-lo tantas vezes antes de ter telemóvel… Ligava para números, ao calhas, e perguntava pela família. Fazia-me da casa. Uns caíam e trocávamos ali dois dedos de conversa, outros desligavam-me na cara. Porém, este desocupado foi mais longe. Fez o que nunca me passou pela cabeça na altura. Apresentava-se como funcionário da Empresa de Eletricidade da Madeira. Invocava dívidas e exigia o pagamento imediato, fornecendo dados para a transferência dos montantes, sob pena de mandar proceder ao corte de energia na hora!
Numa dessas tentativas, a senhora que dorme comigo, foi a contactada. No início ficou atrapalhada. Julgou ter-se esquecido de algum pagamento. Após confirmar, percebeu que era burla e convidou o espertalhão a cortar mesmo a luz. Imediatamente. Sem dó nem piedade. “Não és homem nem és nada, se não o fizeres já”. Está, até hoje, com ela acesa. Pedi-lhe então o número e liguei eu. Foi bater a uma loja! A senhora que atendeu riu-se e perguntou se era por causa de uma burla. Já tinha perdido a conta ao número de pessoas que, como eu, ligavam de volta. Ou seja, para além de burlar gente, o homem ainda “clonava” números despistando assim eventuais provas. Só que, mais uma vez, ficou provado que Deus perdoa, mas a Judite não. Bolas… Já não se pode brincar?
Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas.